28
de fevereiro de 2015 | N° 18087
EDITORIAL
ZH
O DESBLOQUEIO DO
PAÍS
As
interrupções de estradas continuam causando prejuízos irreparáveis à população,
notadamente a setores da economia que trabalham com produtos perecíveis.
No
dia em que a presidente Dilma Rousseff inaugurou o parque eólico de Geribatu,
em Santa Vitória do Palmar, um dos eventos programados pelo governo para
reverter a agenda negativa do país, o confronto entre forças policiais e
caminhoneiros na cidade gaúcha de Três Cachoeiras acabou se impondo como fato
principal no noticiário nacional ao lado do bloqueio da Via Dutra, entre São
Paulo e Rio de Janeiro. Mesmo com decisões judiciais e operações policiais, o
protesto dos condutores de caminhões interrompeu o trânsito ontem em dezenas de
rodovias de pelo menos sete Estados, incluindo Rio Grande do Sul e Santa
Catarina.
O
momento de radicalismo é preocupante, agravado pela imprevisão do governo
federal e por sua inaptidão para o diálogo. Surpreendido pelo movimento, o
Palácio do Planalto tentou primeiro atribuir-lhe conotação política e, tão logo
começou a negociar, precipitou-se em dizer que a situação estava controlada.
Não está. As interrupções de estradas continuam causando prejuízos irreparáveis
à população, notadamente a setores da economia que trabalham com produtos
perecíveis, como hortifrutigranjeiros e leite.
Para
sair do imobilismo, o governo precisa agir com energia e sensibilidade em duas
frentes. Primeiro, tem que providenciar o desbloqueio imediato das rodovias de
forma civilizada mas firme, tratando extremistas e desordeiros como devem ser
tratados, para que os profissionais responsáveis possam decidir serenamente se
querem ou não participar dos protestos. Ao mesmo tempo, tem que intensificar as
negociações e oferecer aos caminhoneiros condições dignas de trabalho, já que a
atividade ficou praticamente inviabilizada com o reajuste dos combustíveis, os
pedágios caros e o baixo preço dos fretes.
Na
verdade, o Planalto está sendo desafiado a desbloquear o país, não apenas
desobstruindo estradas, mas também promovendo os ajustes econômicos necessários
e fazendo as concessões possíveis a setores que precisam de ajuda.
No
dia em que celebrou o vento de Santa Vitória do Palmar como fonte de energia
limpa e barata para ajudar no combate à atual crise hídrica, a presidente Dilma
evitou tocar nas outras mazelas que atormentam o país – a crise ética
evidenciada pelo escândalo da Petrobras, a crise econômica evidenciada pela
inflação e a crise política evidenciada pelo instável apoio parlamentar. Ainda
assim, até mesmo os manifestantes que pedem a sua saída devem torcer para que
ela acerte nas suas decisões, pois, como disse o filósofo Sêneca, se o
comandante não sabe para onde ir, nenhum vento lhe será favorável.
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