quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


18 de fevereiro de 2015 | N° 18077
ARTIGOS - GERSON SCHMIDT*

QUARESMA: 40 TONS DE CINZA,

Parafraseando o polêmico e picante filme em cartaz, as cinzas desta quarta-feira abrem os 40 dias de tom penitencial e de conversão, em preparação à Páscoa que afugenta as trevas do pecado e da morte, das sombras tantas de falta de um discernimento entre o que é certo e errado, num mundo onde tudo é permissível.

Para o cristão, o período compreende três propostas concretas que abrem um horizonte de mudança: oração, jejum e esmola. Essa última compreendida não como simplesmente dar para aliviar a consciência, mas em ter justa caridade, partilhando com quem pouco tem. Em campo maior, é tempo de Campanha de Fraternidade, promovida pela CNBB desde 1964, num país recém sacudido por muito samba, orgia e Carnaval.

O objetivo é provocar a conversão por meio de um tema candente da realidade social, para fomentar a mudança, não só individual, mas também estrutural. A temática deste ano é a Igreja e a sociedade, em lema bíblico sugestivo: “Eu vim para servir” (Mc 10,45).

Nada adianta o exterior se cada indivíduo não tiver uma proposta de mudar radicalmente sua atitude egoísta, descompassada e materialista. Nada muda em mim se não abandonar o pecado. Jesus Cristo tem sido claro que o que sai do homem é o que o torna puro ou impuro, em suas decisões pessoais para o bem ou para o mal, que podem acarretar consequências tão funestas. A decisão fundamental parte de dentro de cada ser humano, onde está Deus, no sacrário indelével de cada um.

Outrora, havia neste perío- do um tom fortemente cinzento, de cruéis penitências e sacrifícios exagerados. Em tom escrupuloso, exigia-se a conversão do fiel, mais pelo temor apavorante de Deus do que pelo amor à verdade, com acento demasiado na figura do Eterno como juiz condenatório do que Pai misericordioso.

A Sexta-feira Santa era o dia mais importante. Hoje se inverte o enfoque. A caminhada de fé na vitória de Cristo ressuscitado sobre nossas mortes é que dá o verdadeiro tom alegre, festivo, litúrgico aos nossos sacrifícios quaresmais, não intimistas, mas abertos ao fraterno e à comunidade. Vivamos esses 40 dias em direção ao domingo feliz da Páscoa.


*Padre e jornalista

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