25
de fevereiro de 2015 | N° 18084
MOISÉS
MENDES
A cama e o colo
Os
empreiteiros presos na carceragem da Polícia Federal em Curitiba não querem
mais tempo de sol, comida melhor, uma cela maior ou encontros íntimos. Eles não
querem nem aditivos.
Querem
apenas dormir em uma cama box, segundo o jornal O Globo. A Folha de S. Paulo e
O Globo fizeram reportagens sobre as condições da cadeia, depois que circulou
na internet que a carceragem seria a Guantánamo de Curitiba.
As
celas são apertadas, com quatro presos cada. Eles dormem em beliches de
concreto (alguns têm colchonetes no chão). Comem a mesma comidinha dos presos
comuns, têm duas horas de sol por dia (quando lavam meias e cuecas no pátio) e
até recebem revistas e jornais.
Os
empreiteiros e seus funcionários usam um buraco no chão como vaso sanitário. Um
colchão improvisado como meia parede é a única separação entre esse espaço e o
resto da cela.
Você
está com pena dos empreiteiros? Ou sente prazer ao saber que eles comem carne
com as mãos? As facas de plástico não cortam a carne de pescoço. Os jornais
falam de uma certa resignação dos presos e dos advogados. Não se queixam e não
pedem muito além da cama.
Seria
um truque para não irritar o juiz Sérgio Moro, que estaria sendo conivente com
o regime de Presídio Central da carceragem, para assim obter delações. Mas há
outra versão: uma prisão estadual poderia ser pior.
Quem
irá se livrar primeiro das celas de Curitiba? Como reagirão os outros
empreiteiros quando alguns forem mandados para casa (como já aconteceu com o
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa) como prêmio pela delação?
Quem
vai esperar pela cama box? Quem será o último moicano, aquele que resistirá até
o fim e não dedará ninguém? Quem aguentará com valentia a cama de concreto?
Minha
curiosidade é saber o que eles andam lendo. Podem estar consumindo textos com
análises profundas que asseguram, categoricamente, que todos eles são pobres
vítimas. Os empreiteiros devem ler esses artigos que os transformam em coitados
e gargalhar.
Eles
sabem que podem até não ganhar a cama, mas ganharão coisa melhor mais adiante.
Eles sempre dormiram, sem incomodações, no colo macio de todos os governos.
Agora é que algo deu errado. Mas os empreiteiros sem cama ainda vão rir muito
disso tudo.
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