segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015


16 de fevereiro de 2015 | N° 18075
DAVID COIMBRA

O Carnaval de Arnaldo

Ela era a mulher do chefe. Era linda como uma rainha de escola de samba. E era Carnaval.

Só que ele era Arnaldo.

Por ser Arnaldo, Arnaldo sabia que certas coisas inesperadas e excitantes não acontecem com Arnaldos. Coisas como uma mulher de chefe chamada (imagine!) Charlotte bater à porta de seu apartamento suburbano, invadi-lo de posse de toda a sua morenice faiscante e acomodar-se na ponta do sofá e cruzar as pernas infinitas mal cobertas por um vestidinho curto como a prudência na adolescência e ronronar com sua voz de creme de baunilha com canela:

– Tenho uma notícia boa e uma ruim para te dar.

Não, essas coisas inesperadas e excitantes não aconteciam com ele. Não que seu nome fosse culpado, claro que não, mas um nome diz algo de quem o carrega. E Arnaldo, realmente, sentia-se um Arnaldo. Sentia-se um homem em tudo médio, de vida média, já havia se conformado com a ideia de que passaria pelo mundo como bilhões de outros passaram e passarão: em branco. Por isso, Arnaldo ficou sem saber o que dizer e, de fato, nada disse. Quem disse, e disse por entre lábios de bergamota poncã, foi ela:

– A notícia boa é que quero me vingar do meu marido.

O marido dela! O chefe! Tratava-se de um homem que podia ser definido por três adjetivos:

1. Brabo; 2. Autoritário; 3. Violento.

A lembrança da característica número 3 fez Arnaldo estremecer. Corria na firma o boato de que o segurança particular do chefe, um nordestino retaco e pouco falante chamado Firmino, havia quebrado os dois braços de um incauto que assediara Charlotte. Seria verdade?

Era possível. O chefe era tão brabo, tão autoritário e tão violento, que a própria Charlotte só o chamava de... Chefe. O pior é que Arnaldo suspeitava de que o chefe não gostava dele. Maldição.

Arnaldo sabia, também, que o chefe arranjara uma desculpa tíbia para viajar ao Rio de Janeiro exatamente no Carnaval. Calculou que fosse essa a razão de Charlotte querer vingança. E acertou. No segundo seguinte, ela acrescentou:

– Ele me deixou aqui sozinha, para ir se esbaldar no Rio. Pois vou me vingar. E vai ser com você.

Arnaldo sentiu os lóbulos das orelhas vibrarem. Mas era mais medo do que entusiasmo. Precisamente porque sabia que coisas inesperadas e excitantes não aconteciam com ele e aquilo era inesperado e aquela mulher era, sem dúvida, excitante. Quando ela ia à firma, visitar o chefe, Arnaldo mal conseguia se controlar. Tinha de olhar para ela, TINHA! E olhava. À sorrelfa, mas olhava, porque, além de atraente, ela exalava sexo por olhos e cabelos, calcanhares e cotovelos. E agora ela estava ali, em busca daquela vingança deliciosa.

– Vem cá, Arnaldo – ela chamou sussurrando, e descruzou as pernas, iluminando o ambiente com a visão de seu entrecoxas. – Vem cá...


E Arnaldo já estava indo e já havia se levantado da poltrona e já ia a meio caminho, quando... ouviu um barulho estranho, porém nítido: havia uma presença ali. O que era? Descubra amanhã, no segundo, derradeiro e emocionante capítulo de “O Carnaval de Arnaldo”.

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