07
de fevereiro de 2015 | N° 18066
NÍLSON SOUZA
REMORSO BISSEXTO
Sou
do último dia de agosto. Nasci num dia roubado de fevereiro pelo imperador
Augusto, que queria ter um mês de 31 dias em sua própria homenagem para não
ficar atrás do seu antecessor Júlio César, que se autorreverenciou com julho.
Naqueles tempos pretéritos e bárbaros, os poderosos de Roma se consideravam
deuses e manipulavam até a contagem do tempo para inflar o próprio ego ou o de
seus familiares e amigos. Hoje, utilizam-se medalhas e nomes de rua.
Mais
tarde, o papa Gregório XIII acertou as contas do calendário, recuperou os dias
perdidos, mas manteve fevereiro com a sua inconstância de 28 dias em anos,
digamos, normais e 29 nos chamados anos bissextos. Estes ocorrem de quatro em
quatro anos, com duas exceções curiosas: de cem em cem anos não pode ser
bissexto, de 400 em 400 anos deve ser, obrigatoriamente, bissexto. Sei que tem
uma explicação astronômica para isso, mas não vou me aprofundar porque deve ser
uma chatice. Daqui a 400 anos, confiro se dá certo mesmo.
Mas
os aniversariantes do dia 29 não precisarão esperar tanto. Ano que vem já é
bissexto novamente. No fim deste mês, porém, terão que fazer aquela manobra de
celebrar o aniversário na véspera ou no dia seguinte. Depois de saber que o dia
retirado de fevereiro foi exatamente para a minha data de nascimento, comecei a
me sentir um pouco culpado pela artimanha do imperador. Se pudesse, devolveria.
Os
aniversariantes bissextos, como o nosso chargista Marco Aurélio e o seu colega
carioca Jaguar, sempre dão um jeito de transformar o limão em limonada,
alegando que envelhecem mais lentamente. Para humoristas é mais fácil, pois
eles sempre encontram uma saída divertida para as armadilhas da vida. Mas as
crianças sofrem quando se dão conta de que sua data de aniversário foi suprimida
do calendário.
Que
safadeza, seu Augusto!
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