15
de fevereiro de 2015 | N° 18074
CLÁUDIA
LAITANO
Martha
Medeiros está em férias e retorna na edição do dia 1º de março
Espelho, espelho meu, quem sou
eu?
Estamos chegando ao estágio em que rostos familiares
desaparecem para dar lugar a uma máscara vagamente inspirada nos traços
originais
Comparadas
com os drones, a impressora 3D e as raquetes de matar mosquito, as técnicas que
prometem rejuvenescimento ainda têm muito no que evoluir Donatella Versace e
Mickey Rourke estão aí para provar.
Se
você conhece uma pessoa que já passou dos 40 e parece muito mais nova do que
realmente é, pode apostar que ela come bem, dorme oito horas toda noite e faz
exercícios regularmente. Agora, se você encontrar uma pessoa que já passou dos
40 e parece uma versão alterada de si mesma – não necessariamente mais jovem ou
mais bonita –, é provável que ela tenha recorrido a alguma intervenção estética
que não deu muito certo.
Bocas
inchadas, bochechas esticadas e olhares paralisados podem ser muito
assustadores, mas de certa forma nos acostumamos a eles. Agora estamos chegando
a um novo estágio, aquele em que rostos familiares simplesmente desaparecem
para dar lugar a uma espécie de máscara vagamente inspirada nos traços
originais. Foi o que aconteceu no ano passado com a atriz Renée Zellweger e
parece ter se repetido agora com Uma Thurman. Ambas tornaram-se assunto na
internet por terem ficado irreconhecíveis depois de algum tipo de procedimento
exageradamente invasivo.
Sim,
o povo gosta de fofocar, e o visual de mulheres famosas é aparentemente um
manancial inesgotável para especulação, mas há algo perturbador nesse tipo de
transformação abrupta e radical de um rosto conhecido. Deixando de lado
qualquer discussão a respeito do tipo de pressão, interna ou externa, que leva
uma mulher a alterar a própria fisionomia, o fato é que reagimos a essas
modificações de forma visceral. O industrioso cérebro humano, treinado para
reconhecer pessoas e detectar as mínimas variações de uma expressão facial,
parece ter dificuldade para processar o significado dessa quebra de
expectativa.
Não
que nosso aspecto não mude o tempo todo. Se não fizermos nada a respeito, a
natureza modificará nosso rosto como um cirurgião plástico diligente e
meticuloso. Vai transformar a criança na adolescente, a mocinha na mulher, a
mulher madura na mais madura ainda. Todo dia, fará um retoque discreto, quase
imperceptível, e já estará trabalhando há algum tempo quando olhamos no espelho
e nos damos conta de que ela andou agindo enquanto estávamos distraídas fazendo
outra coisa. Ainda assim, nenhuma mulher acorda aos 50 espantada por não ter
mais o rosto que tinha aos 25. De alguma forma, a natureza nos dotou dessa
mágica sensação de continuidade e identidade que muitos neurocientistas
sugerem, hoje, que se trata apenas de uma ilusão.
Ilusória
ou não, essa sensação de que a aparência reflete a nossa essência não está
necessariamente ligada à beleza ou à idade, e portanto nem sempre poderá ser
recuperada (ou descoberta) na mesa de um cirurgião plástico.
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