Jaime Cimenti
Livros, leitores, leituras
Li que um jovem executivo norte-americano, do ramo da
tecnologia digital, de 35 anos, todo dia pede para seu filho de cinco anos ler
um livro impresso antes de dormir. Eles moram em Nova Iorque, o centro do
mundo. Achei a história muito, muito interessante. Primeiro, pelas idades
deles; segundo, pela cidade; e, terceiro e principalmente, pelo que disse o pai
do menino.
O executivo, que convive diariamente com o universo
eletrônico e virtual, afirmou que a leitura silenciosa e atenta das páginas
impressas dos livros mexe com a sensibilidade e a inteligência do garoto de um
modo incomparável. As imagens, as telas, os barulhinhos, os joguinhos e tudo
mais dos computadores, tablets e celulares ele acha bons e inevitáveis para o
filho, mas pensa que são um bocado fáceis e dispersivos e que não despertam
tanto os sentidos da criança.
Concordo e não precisaria escrever muito mais sobre o tema,
sobre a mágica leitura solitária e silenciosa das páginas impressas. Nem entro
nas questões dos efeitos, por vezes ruins, da luz da tela, do fato de livro
impresso não enguiçar e daquele perfume de papel e tinta que só os velhos
livros nos dão. Ah, juro que não estou escrevendo em causa própria, defendendo
esta coluna de livros impressos que tem quase 21 anos. Juro que não, acreditem.
Juro por Deus e pela minha mãe.
Num país como o Brasil, em especial, a leitura de livros impressos
deve ser incentivada e vista como uma das melhores possibilidades de boa
educação, em vários sentidos. Isto, aliás, vem sendo feito pela iniciativa
privada e pelos governos, mas nunca é demais repetir, principalmente para as
novas gerações, que, realmente, a leitura de livros impressos é essencial e dá
um toque imprescindível para a inteligência, o racional e as emoções das
pessoas.
Essa conversa está ficando um pouco séria. Vamos, então,
pegar leve e apresentar os 10 direitos do leitor, pelo escritor e professor
marroquino Daniel Pennac. O leitor tem o direito de não ler, de saltar páginas,
de não acabar um livro, de reler, de ler não importa o quê, de confundir um
livro com a vida real, de ler em qualquer lugar, de ler trechos soltos, de ler
em voz alta e de não falar do que leu.
Acrescento mais alguns direitos, com a licença de Pennac. O
leitor pode empilhar livros na cabeceira, cuidando para que o exemplar de
Quixote não lhe caia na cabeça, provocando-lhe ainda mais loucuras. O Quixote é
a Bíblia da Loucura. Todo mundo pode “tresler”. O leitor pode ler uns 10 livros
ao mesmo tempo, “trechear” à vontade e tem o direito de terminar de ler alguns.
O leitor pode fazer anotações nos livros, de preferência com lápis, para poder
apagar e/ou corrigir.
O leitor pode pautar, ou tentar pautar, o colunista do
Jornal do Comércio, fazendo indicações, comentários, correções e o que mais
achar bom. O colunista tem alguma consciência de suas muitas limitações, sabe
que é só um ponto na página impressa da vida e lembra que o mundo dos livros é
infinito, livre e intergaláctico. O leitor tem o direito de criar outros
direitos para si, como quiser. Livro é liberdade. Fui.
a propósito...
Acredito que somente uns 10% das vendas de livrarias físicas
e virtuais seja de obras que tratem de poesia, teatro e literatura de ficção,
como contos, novelas e romances. Fico torcendo para que a coisa mude. Sei
também que grande parte do mercado editorial vive de livros didáticos e
técnicos.
Poderia ser diferente, ou, ao menos, mais democrático. Mas o
que me deixa mais preocupado é ver que, pelos menos nos últimos anos, nas
listas de mais vendidos dos jornais e revistas, a ficção brasileira pouco
aparece. Será que está todo mundo satisfeito só com as novelas brasileiras e as
ficções estrangeiras? Faz pensar, não é?
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