sábado, 14 de fevereiro de 2015


15 de fevereiro de 2015 | N° 18074
MOISÉS MENDES

O impeachment do ziriguidum

O Brasil acorda hoje com a ressaca da primeira noite de Carnaval e um novo governo. Quem cantou a marcha do impeachment até o sol raiar e foi dormir talvez ainda não saiba que Eduardo Cunha é o novo comandante do país.

Num primeiro momento, o Congresso depôs a presidente Dilma Rousseff e deu posse ao vice Michel Temer. Mas a Constituição foi alterada em cinco minutos, às 4h35min da madrugada, e quem assumiu foi o segundo na sucessão, o presidente da Câmara.

A situação está sob controle. Cunha vai moralizar o Brasil. É um homem submetido aos ditames das liberdades. Tanto que tem mais de 50 processos contra jornalistas. Para demonstrar que não se apega ao poder, chegou a considerar a volta da monarquia. Mas dom Luiz Gastão Orleans e Bragança declinou do convite. “Impeachment ou morte? Prefiro a morte”, disse o herdeiro do trono.

O novo governo quer homens éticos em postos-chave. Como não havia muitos éticos na volta ao amanhecer, foi lançado um programa emergencial. É o Mais Éticos, que importará éticos da Itália e da Rússia e será sustentado com o dinheiro do Bolsa Família, que foi extinto.

Importaremos 10 éticos italianos, aliados de Berlusconi, que ficam aqui seis meses e depois voltam para a cadeia na Itália. E 15 russos serão enviados de presente por Putin, mas sem direito a devolução.

O programa Mais Éticos atrai as atenções do mundo. Executivos de bancos quebrados em 2008 querem trabalhar no Brasil. “Nós amamos Rio, Amazônia, micos e tucanos”, disse um deles, que escapou de 24 processos e criou uma nova pirâmide bilionária de aplicações em Nova York.

Ontem mesmo, assumiram alguns dos novos ministros. Jair Bolsonaro ficou com a Secretaria da Igualdade Racial. Marco Feliciano assume a Secretaria de Direitos Humanos.

Lobão, o músico, conversou com Edison Lobão, o ex-ministro da Energia. Como tirou um curso de eletrônica e eletricidade para consertar guitarras, Lobão vai assumir a pasta da Energia. Disse, ao final do encontro, que havia sido uma conversa franca de Lobão para Lobão.

Há movimentação intensa no Planalto e no Congresso. Um parlamentar do PFL (o PFL foi recriado ontem por emenda apresentada por debaixo da mesa) afirmou que muita gente vai trabalhar durante o Carnaval, alguns ainda fantasiados de golpistas. “Não é fácil tirar a tinta da cara”, disse ele e sumiu no túnel do Senado às gargalhadas, jogando para o alto folhetos de propaganda do Dia do Orgulho Hetero.

A Petrobras será vendida, em 60 vezes sem entrada, para a máfia ucraniana. Os empreiteiros presos na Operação Lava- Jato fazem parte do negócio e viajam amanhã para a bombardeada cidade de Donetsk, com direito a capacete.

A situação é tranquila, mas Maluf e Sarney não sabiam, até às 6h, de que lado ficariam. Maluf dizia, com a mão na testa: “Ainda não entendi qual é o meu negócio nisso tudo”.

Juízes de todo o Brasil foram mobilizados para julgar os petistas presos. Um dos novos ministros repetia sem parar: “Eu juro, não encontramos, de novo, nenhum corrupto tucano. Nenhum. Eu juro”.

Dilma e Lula exilaram-se no Uruguai, é claro, na casinha do ex-presidente José Mujica, no sítio de Rincón del Cerro, na periferia de Montevidéu.


A situação em Brasília é de tranquilidade. Voltem a se divertir. O nosso Brasil está sendo bem cuidado pelos novos governantes. Bom ziriguidum.

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