15
de fevereiro de 2015 | N° 18074
MOISÉS
MENDES
O impeachment do ziriguidum
O
Brasil acorda hoje com a ressaca da primeira noite de Carnaval e um novo
governo. Quem cantou a marcha do impeachment até o sol raiar e foi dormir
talvez ainda não saiba que Eduardo Cunha é o novo comandante do país.
Num
primeiro momento, o Congresso depôs a presidente Dilma Rousseff e deu posse ao
vice Michel Temer. Mas a Constituição foi alterada em cinco minutos, às 4h35min
da madrugada, e quem assumiu foi o segundo na sucessão, o presidente da Câmara.
A
situação está sob controle. Cunha vai moralizar o Brasil. É um homem submetido
aos ditames das liberdades. Tanto que tem mais de 50 processos contra
jornalistas. Para demonstrar que não se apega ao poder, chegou a considerar a
volta da monarquia. Mas dom Luiz Gastão Orleans e Bragança declinou do convite.
“Impeachment ou morte? Prefiro a morte”, disse o herdeiro do trono.
O
novo governo quer homens éticos em postos-chave. Como não havia muitos éticos
na volta ao amanhecer, foi lançado um programa emergencial. É o Mais Éticos,
que importará éticos da Itália e da Rússia e será sustentado com o dinheiro do
Bolsa Família, que foi extinto.
Importaremos
10 éticos italianos, aliados de Berlusconi, que ficam aqui seis meses e depois
voltam para a cadeia na Itália. E 15 russos serão enviados de presente por
Putin, mas sem direito a devolução.
O
programa Mais Éticos atrai as atenções do mundo. Executivos de bancos quebrados
em 2008 querem trabalhar no Brasil. “Nós amamos Rio, Amazônia, micos e
tucanos”, disse um deles, que escapou de 24 processos e criou uma nova pirâmide
bilionária de aplicações em Nova York.
Ontem
mesmo, assumiram alguns dos novos ministros. Jair Bolsonaro ficou com a
Secretaria da Igualdade Racial. Marco Feliciano assume a Secretaria de Direitos
Humanos.
Lobão,
o músico, conversou com Edison Lobão, o ex-ministro da Energia. Como tirou um
curso de eletrônica e eletricidade para consertar guitarras, Lobão vai assumir
a pasta da Energia. Disse, ao final do encontro, que havia sido uma conversa
franca de Lobão para Lobão.
Há
movimentação intensa no Planalto e no Congresso. Um parlamentar do PFL (o PFL
foi recriado ontem por emenda apresentada por debaixo da mesa) afirmou que
muita gente vai trabalhar durante o Carnaval, alguns ainda fantasiados de
golpistas. “Não é fácil tirar a tinta da cara”, disse ele e sumiu no túnel do
Senado às gargalhadas, jogando para o alto folhetos de propaganda do Dia do
Orgulho Hetero.
A
Petrobras será vendida, em 60 vezes sem entrada, para a máfia ucraniana. Os
empreiteiros presos na Operação Lava- Jato fazem parte do negócio e viajam
amanhã para a bombardeada cidade de Donetsk, com direito a capacete.
A
situação é tranquila, mas Maluf e Sarney não sabiam, até às 6h, de que lado
ficariam. Maluf dizia, com a mão na testa: “Ainda não entendi qual é o meu
negócio nisso tudo”.
Juízes
de todo o Brasil foram mobilizados para julgar os petistas presos. Um dos novos
ministros repetia sem parar: “Eu juro, não encontramos, de novo, nenhum
corrupto tucano. Nenhum. Eu juro”.
Dilma
e Lula exilaram-se no Uruguai, é claro, na casinha do ex-presidente José
Mujica, no sítio de Rincón del Cerro, na periferia de Montevidéu.
A
situação em Brasília é de tranquilidade. Voltem a se divertir. O nosso Brasil
está sendo bem cuidado pelos novos governantes. Bom ziriguidum.
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