14
de fevereiro de 2015 | N° 18073
NÍLSON
SOUZA
O QUE VOCÊ FARIA?
Há mais
filosofia no Carnaval do que em muitos compêndios filosóficos, até mesmo
porque, como dizia Jean-Paul Sartre, “a existência precede a essência”. A frase
se presta para mil interpretações, sei disso. Faço minha livre adaptação para
ligar o preceito existencialista à nossa festa popular. Se não sabemos
exatamente a que viemos, vamos nos divertir, que a vida é curta. Depois, a
gente pensa na eternidade.
Sou
um atento observador das letras dos sambas-enredo e das mensagens elaboradas
pelos carnavalescos, que aproveitam o momento de extrema visibilidade para
viajar pelo mundo das ideias. Eles moram na filosofia, como a musa de Caetano. Outro
dia, li num belo ensaio sobre poesia que os poetas e os filósofos têm a cabeça
nas nuvens – mas não são as mesmas nuvens.
Pois
um dos mais famosos intelectuais do samba, o multipremiado Paulo Barros, que
neste ano cuida da Mocidade Independente de Padre Miguel, vai mostrar na
avenida um tema verdadeiramente desafiador: o último dia do resto das nossas
vidas. Não é bem assim. Na verdade, ele trabalhou em cima de uma letra da canção
de Paulinho Moska, chamada O Último Dia, que tem versos como este: “O que você faria
se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria”.
O
tema, portanto, é o fim do mundo. Vem aí um espetáculo verdadeiramente apocalíptico,
pois o tricampeão Paulo Barros costuma fazer mágicas, arrancar cabeças e
promover corridas malucas em pleno desfile. Alguma coisa assustadora vai
acontecer amanhã, quando a Mocidade passar no sambódromo.
Ainda
que seja um apocalipse de mentirinha, como, aliás, têm sido também aqueles
previstos por profetas e cientistas, para decepção dos catastrofistas, não
custa embarcar na fantasia e refletir um pouquinho sobre o tema.
Se
fosse verdade, o que você faria?
Ia
manter sua agenda ou aproveitar o dia?
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