17
de fevereiro de 2015 | N° 18076
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Futebolzinho
inofensivo
A
mulher não é contra o futebolzinho do namorado na semana. É uma lenda. É
folclore. É oposição inventada.
Ela
até apoia e gosta, tem um tempo livre para não ser incomodada e assistir a uma
temporada inteira de The Good Wife, sem nenhuma interrupção.
O
que a mulher se irrita é com a incoerência da atividade esportiva. O homem
volta pior do que quando saiu. Mais demolido, mais desmoronado, desprovido de
fôlego, precisando de uma injeção de glicose na veia.
Ele
se despede sóbrio, de calção, regata e tênis e volta dois quilos a mais, não a
menos, com a barriga proeminente, bafo de cerveja e arrotando costela e pão com
alho. É uma antiginástica, uma desidratação alcoólica. Bate a porta como um
touro e regressa como um porco, incapaz de enfiar a chave na fechadura.
Que
futebol é este que incha e acaba com o cara? Atravessou por uma máquina de moer
ogro? Abandonou o lar disposto e centrado e retorna bêbado, proferindo
neologismos, enrolando a língua e derrubando objetos.
Como
acreditar que foi fazer um esporte? Não está nem mais suado, e sim com rosto
pálido de engov. A impressão é de que passou o rodo numa churrascaria, num
boteco, num bordel, na Cidade Baixa.
Não
há como imaginar depois romance, sexo, carinho, palavras de amor, nem dormir de
conchinha. Homem pós-jogo é nulo e tóxico. O sujeito deve permanecer no outro
lado da cama, distanciado por uma muralha de travesseiros.
Além
de estar imprestável para o restante da madrugada, esqueça a companhia dele no
dia seguinte, envolvido com azia, enxaqueca e gemidos involuntários.
Mas
não desconfie apesar das aparências enganosas. Homem usa o jogo como pretexto
para o exorcismo dos bons modos, para expulsar a educação materna e a etiqueta
social. A bagunça é mais importante do que a partida, a arruaça é mais
fundamental do que o condicionamento. É tão somente uma criança viking,
inofensiva, brincando de se destruir um pouco, escapando do controle do
colesterol e da bebida, fofocando com amigos e contando as mesmas piadas de
sempre. Até correu em campo, nada de especial, meia hora de grito para que os
colegas passassem a bola e muitos gols perdidos. Ele se dedicou com volúpia
para a mesa e cervejada no fim da pelada – banca o atleta, mas tem alma
aposentada de técnico.
Já
quando está traindo, o marido chega limpo e cheiroso do banho do motel. Neste
caso, pode comprar briga e vender a casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário