12
de fevereiro de 2015 | N° 18071
DAVID
COIMBRA
Os filhos dos homossexuais
Deu
um desânimo ontem, quando entrevistamos o pastor e deputado Marco Feliciano no
Timeline da Gaúcha. Eram muitas opiniões controversas ao mesmo tempo, não
consegui manter um foco. Mas, de tudo que ele falou, tem algo que capturou a
minha atenção e, terminada a entrevista, pensei: “Mil pastores me convertam! Era
disso que deveria ter falado!”
É sobre
a adoção de crianças por casais homossexuais.
O
pastor é visceralmente contra esse tipo de adoção e diz estar aí,
especificamente, o seu grande problema com os gays.
Devia
ter pego esse assunto pelas orelhas e não deixado que escapasse. Até porque
ontem mesmo surgiu a notícia de uma criança que caiu do terceiro andar de um prédio
em Capão da Canoa, enquanto a mãe tinha descido para tomar cafezinho. Essa mãe,
ao que tudo indica, foi relapsa com o filho. Há muitos casais tradicionais
bastante relapsos com os filhos, há casais tradicionais que maltratam os filhos
e os abandonam e os transformam em adultos monstruosos, os presídios estão
transbordando deles.
Logo,
o fato de um casal ser ortodoxo, sexualmente falando, não garante que os filhos
sejam bem cuidados.
Digo
mais: o meu pai não foi um bom pai. E era machão. Era do Alegrete, se chamava
Gaudêncio, pegava um touro pelas guampas, jogava-o no chão e o imobilizava,
exatamente como eu devia ter feito com o tema em questão, quando entrevistamos
o Feliciano.
Não
fiz. Faço agora.
Agora,
quero enfatizar que a adoção de crianças por casais homossexuais não é uma
coisa boa só para os casais homossexuais: é uma coisa ótima para as crianças. Porque
um casal que adota uma criança, em geral, quer muito aquela criança e
provavelmente vai zelar muito por ela e dificilmente a deixaria sozinha no
terceiro andar de um prédio para ir tomar cafezinho.
Uma
criança, para se tornar um adulto digno, precisa ter dois tipos de patrimônio
que lhe serão dados pelos pais: amor e valores imateriais.
Uma
pessoa só dá amor se tiver recebido amor. Ninguém pode dar o que não tem. O
bandido cruel, que mata ou tortura sua vítima por diversão, tenha a certeza de
que ele jamais recebeu compaixão no tempo em que fazemos o estoque desses
sentimentos, que é a infância.
Um
casal homossexual não tem menos condições do que um casal tradicional de dar
amor e passar valores aos seus filhos. Considerando os obstáculos que os
homossexuais enfrentam para ficar juntos e adotar uma criança, talvez eles
estejam até mais preparados para a tarefa.
Aí está,
portanto, uma boa causa a se debater com os Felicianos da vida: a defesa da adoção
de crianças pelos casais homossexuais. Não em benefício dos pais. Em benefício
dos filhos.
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