segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015


23 de fevereiro de 2015 | N° 18082
DAVID COIMBRA

Todos somos Tio Patinhas

O que é que aconteceu com o Tio Patinhas, afinal?

Fugimos da era do gelo na Nova Inglaterra e descemos até a florida Flórida, levamos o B à Disney e sobre o que vimos e vivemos tenho muito a contar, mas, por ora, o que me intriga é essa inquietante pergunta. Pois, acredite, Tio Patinhas sumiu. Imagine que, em pleno mundo da Disney, não se encontra traço dele em lugar algum. Para ser mais preciso, em uma semana, deparei com uma única ilustração em que ele figurava, e ainda assim como coadjuvante. Um mistério.

O meu filho, que tem sete anos, nunca ouviu falar em Tio Patinhas. Nem a Sophia, filha do meu amigo Degô, que tem a mesma idade e estava junto conosco. Baniram o Tio Patinhas? É isso? Por quê? Porque ele é quaquilionário? Porque é propagandista do capitalismo, algo assim? Os petistas não gostam do Tio Patinhas? Mas estamos nos Estados Unidos, aqui não há petistas. Os democratas não gostam do Tio Patinhas? Ei, Obama, o que vocês fizeram com o Tio Patinhas?

Eu gostava do Tio Patinhas. Ele era o pato mais humano dos quadrinhos. Amava o seu dinheiro aparentemente acima de tudo, era sovina e inescrupuloso, não raro explorava o Pato Donald e seus três sobrinhos, mas, de repente, se arrependia, sentia remorsos e se tornava de súbito generoso, para logo depois retomar o velho egoísmo. Era verossímil, o Tio Patinhas. E agora se foi. Ou o levaram embora. Digam-me, por favor, o que foi feito do Tio Patinhas.

Suspeito de que o expurgo do Tio Patinhas tenha algo a ver com a burrice dos nossos tempos politicamente corretos. O Tio Patinhas seria um símbolo do culto americano à riqueza e ao sucesso, o que é muito criticado por... americanos.

Aí está algo que quem olha de fora, em qualquer circunstância, tem dificuldade de ver: todas as pessoas são muitas pessoas dentro de uma só, todas as nações são muitas nações dentro de uma só, com certas características marcantes que podem levar à construção de estereótipos. E a injustiças.

O que são os Estados Unidos?

O que é o Brasil?

Quem é você?

Não há respostas simples para tais perguntas, mas é certo que ações são mais eloquentes do que sentimentos.

Como você trata os outros? Você os respeita? Isso diz muito de quem você realmente é.

Como um país trata os seus cidadãos? Onde as pessoas vivem melhor? Isso diz muito do que é de fato uma nação.

Em que países do mundo as pessoas vivem com mais liberdade e segurança, dois conceitos quase opostos entre si? Em que países os direitos humanos são mais respeitados? Onde existem mais garantias de igualdade de gênero, raça e orientação sexual?

Dá para listar esses lugares. Estados Unidos e Canadá. Austrália e Nova Zelândia. Japão e Coreia do Sul. Israel. E mais os países da Europa Ocidental. Ficamos por aí.

O que essas nações têm em comum? São todas democracias capitalistas fortemente guiadas pelo respeito à lei e às instituições.


Assim, vejo que o Brasil está no caminho certo. Com perigos à frente e muito ainda a percorrer, mas, pelo menos, no caminho certo.

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