08
de fevereiro de 2015 | N° 18067
CLAUDIA
LAITANO
Martha
Medeiros está em férias e retorna na edição do dia 22 de fevereiro
Românticos
Quando foi mesmo que as comédias românticas começaram
a ficar tão ruins? Não chucrute-ruim, bem entendido, mas
algo-que-foi-bom-três-dias-atrás-mas-ainda-dá-pra-comer ruim? (Sim, porque eu
ainda prefiro uma comédia romântica medíocre a um maaaaravilhoso filme de
explosões e perseguição.)
Se
comédia romântica é como pizza – até quando é mais ou menos, dá pra traçar –,
de uns tempos para cá elas estão todas com o mesmo gosto de molho pronto de
tomate: previsíveis, burocráticas, sem tempero. Mais para Katherine Heigl do
que para Katharine Hepburn, digamos assim.
E
não sou só eu que estou dizendo, viu? A perda de prestígio das comédias
românticas já se reflete nas bilheterias. Depois de uma década garantindo bons
resultados para a indústria cinematográfica, a chama do romance começou a
enfraquecer em 2012, a
ponto de a produtora Lynda Obst (de Sintonia de Amor e Como Perder um Homem em
10 Dias) admitir, em dezembro, que 2014 foi o pior ano, dos seus 30 de
carreira, para o gênero.
Comédias
românticas, para quem não gosta, são aqueles filmes bobinhos em que duas
pessoas demoram duas horas para descobrir o que todo mundo no cinema já sabe –
que, mesmo brigando, eles já estão apaixonados e foram feitos um para o outro.
Antes do final feliz, porém, há alguns protocolos a seguir. O casal tem que
começar às turras, lá pelo meio deve começar a superar suas diferenças
(sociais, morais, intelectuais...) e depois dar mais uma brigadinha antes de
voltar a se entender. Ah, e se por acaso um dos dois levou um fora antes de
encontrar o verdadeiro amor, é absolutamente certo que aquela terceira pessoa,
em algum momento, vai voltar arrependida, pedindo para voltar. Já notou?
Há
várias teses para a crise das comédias românticas. Uma delas é que desde que o
sexo antes do casamento deixou de ser tabu, foi preciso inventar motivos cada
vez mais mirabolantes para que o casal protagonista não fique junto logo de uma
vez – ela é prostituta, ele um grande empresário; ela é uma sereia, ele é o
presidente dos Estados Unidos; ela é vendedora de enciclopédias, ele é um
zumbi....
Além disso, é preciso levar em conta que boa parte da demanda por
romance e histórias leves e divertidas tem sido abastecida por seriados de TV –
cada vez mais ágeis em transpor o espírito da época para o contexto de
histórias românticas (como Friends fez pela Geração X nos anos 1990, e How I
Met Your Mother ou Girls estão fazendo pela Geração Y nos anos 2010).
Aparentemente,
foram as comédias românticas do cinema que ficaram mais bobas e não o interesse
do público que diminuiu. Pois enquanto o sonho do grande amor não virar ficção
científica, sempre vai haver público para uma boa história romântica.
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