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de fevereiro de 2015 | N° 18074
GLAMOUR
E RISCO
VIDA DUPLA
A
MINISSÉRIE FELIZES PARA SEMPRE? despertou a curiosidade sobre o universo das
prostitutas de luxo. Para ZH, três mulheres que circulam pelo ambiente
universitário revelam o que as levou a largar empregos socialmente aceitos para
fazer do sexo a sua profissão, como lidam com as consequências e como convivem
com o medo de serem descobertas
Enquanto
o Brasil acompanhava, entre o espanto e a curiosidade, a trama de sedução
encarnada pela acompanhante de luxo vivida pela atriz Paolla Oliveira na
minissérie global Felizes para Sempre?, a gaúcha Clarice, 28 anos, “súper se
identificava” com Danny Bond. Malu, 24, perdia as cenas porque estava
trabalhando naquele horário. E Paty Luxury, 25, assistia a desenhos da Peppa
Pig com a filha pequena, que ignora o que a mãe faz durante as tardes.
As
três são acompanhantes de alto nível em Porto Alegre, onde levam uma vida
dupla. Como a personagem de Paolla, inventam nomes, criam desculpas para
explicar mudanças na rotina, enfrentam dilemas cotidianos para esconder o
segredo da família e dos namorados. Não é de praxe ganharem R$ 4 mil por hora,
como no enredo ambientado em Brasília, mas recebem o suficiente para causar
inveja nos trabalhadores assalariados.
Clarice
– o pseudônimo homenageia a escritora Clarice Lispector – faz doutorado em uma
prestigiada universidade. Chegou a ganhar R$ 20 mil por mês fazendo programas.
Quando a cidade estava repleta de turistas da Copa, recebeu R$ 4 mil em um
único encontro. Hoje tem um cliente exclusivo e ensaia nova vida.
Paty,
que já trabalhou na UTI neonatal de um dos mais tradicionais hospitais gaúchos,
concilia os estudos acadêmicos com programas regulares. Os amigos que a seguem
pelo Facebook estão acostumados a encontrar ali fotos de criança, churrascos em
família, frases religiosas. As informações ajudam a reforçar a imagem recatada
da mãe exemplar. E também a afugentar suspeitas sobre as atividades que a
universitária de sorriso meigo e óculos de grau esconde.
– Eu
sou totalmente diferente da ideia que as pessoas fazem de uma garota de
programa. Saio na rua e ninguém desconfia que eu possa ser uma, pelo jeito que
eu me visto, converso. Chovem garotas de programa por aí e ninguém desconfia. É
impossível hoje tu apontar e dizer quem é – garante.
Como
na minissérie, o glamour e o risco caminham juntos. Ao mesmo tempo em que passa
finais de semana em hotéis luxuosos da Serra tomando espumante com turistas
estrangeiros, a universitária Malu convive com o medo de que sua vida paralela
venha à tona. Enfrenta ameaças de um casal de cafetões. Ressentidos pelo seu
abandono ao serviço que administravam, os antigos chefes enviaram a seus
familiares fotos em que ela aparece nua – e desde então Malu se desdobra para
desmentir os comentários que se espalharam pela cidade de menos de 20 mil
habitantes onde cresceu e ganhou concurso de beleza.
– No
início, parece que não vai dar nada, que ninguém vai descobrir. Mas uma hora a
bolha estoura. Fico pensando: até onde eu vou? – pergunta-se.
leticia.duarte@zerohora.com.br
jefferson.botega@zerohora.com.br
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