sábado, 14 de fevereiro de 2015


15 de fevereiro de 2015 | N° 18074
GLAMOUR E RISCO

VIDA DUPLA

A MINISSÉRIE FELIZES PARA SEMPRE? despertou a curiosidade sobre o universo das prostitutas de luxo. Para ZH, três mulheres que circulam pelo ambiente universitário revelam o que as levou a largar empregos socialmente aceitos para fazer do sexo a sua profissão, como lidam com as consequências e como convivem com o medo de serem descobertas

Enquanto o Brasil acompanhava, entre o espanto e a curiosidade, a trama de sedução encarnada pela acompanhante de luxo vivida pela atriz Paolla Oliveira na minissérie global Felizes para Sempre?, a gaúcha Clarice, 28 anos, “súper se identificava” com Danny Bond. Malu, 24, perdia as cenas porque estava trabalhando naquele horário. E Paty Luxury, 25, assistia a desenhos da Peppa Pig com a filha pequena, que ignora o que a mãe faz durante as tardes.

As três são acompanhantes de alto nível em Porto Alegre, onde levam uma vida dupla. Como a personagem de Paolla, inventam nomes, criam desculpas para explicar mudanças na rotina, enfrentam dilemas cotidianos para esconder o segredo da família e dos namorados. Não é de praxe ganharem R$ 4 mil por hora, como no enredo ambientado em Brasília, mas recebem o suficiente para causar inveja nos trabalhadores assalariados.

Clarice – o pseudônimo homenageia a escritora Clarice Lispector – faz doutorado em uma prestigiada universidade. Chegou a ganhar R$ 20 mil por mês fazendo programas. Quando a cidade estava repleta de turistas da Copa, recebeu R$ 4 mil em um único encontro. Hoje tem um cliente exclusivo e ensaia nova vida.

Paty, que já trabalhou na UTI neonatal de um dos mais tradicionais hospitais gaúchos, concilia os estudos acadêmicos com programas regulares. Os amigos que a seguem pelo Facebook estão acostumados a encontrar ali fotos de criança, churrascos em família, frases religiosas. As informações ajudam a reforçar a imagem recatada da mãe exemplar. E também a afugentar suspeitas sobre as atividades que a universitária de sorriso meigo e óculos de grau esconde.

– Eu sou totalmente diferente da ideia que as pessoas fazem de uma garota de programa. Saio na rua e ninguém desconfia que eu possa ser uma, pelo jeito que eu me visto, converso. Chovem garotas de programa por aí e ninguém desconfia. É impossível hoje tu apontar e dizer quem é – garante.

Como na minissérie, o glamour e o risco caminham juntos. Ao mesmo tempo em que passa finais de semana em hotéis luxuosos da Serra tomando espumante com turistas estrangeiros, a universitária Malu convive com o medo de que sua vida paralela venha à tona. Enfrenta ameaças de um casal de cafetões. Ressentidos pelo seu abandono ao serviço que administravam, os antigos chefes enviaram a seus familiares fotos em que ela aparece nua – e desde então Malu se desdobra para desmentir os comentários que se espalharam pela cidade de menos de 20 mil habitantes onde cresceu e ganhou concurso de beleza.

– No início, parece que não vai dar nada, que ninguém vai descobrir. Mas uma hora a bolha estoura. Fico pensando: até onde eu vou? – pergunta-se.


leticia.duarte@zerohora.com.br jefferson.botega@zerohora.com.br

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