11
de fevereiro de 2015 | N° 18070
FÁBIO
PRIKLADNICKI
HOMEM OU
PÁSSARO?
Como
toda grande obra, o filme Birdman trata de muitos temas ao mesmo tempo. Um
deles é a busca pelo reconhecimento: o que faz de você realizado na vida? O
público brasileiro lembrará do folclórico Pestana do conto Um Homem Célebre, de
Machado de Assis, que era craque em compor polcas buliçosas, mas aspirava mesmo
à grande arte de Bach, Beethoven e Mozart. Só que toda vez que pensava ter
composto uma bela partitura clássica percebia que a música já existia.
Em
Birdman, de forma similar, Michael Keaton vive o ator de cinema Riggan Thomson,
estrela de uma série de blockbusters que recusa o convite para um quarto filme
e decide arriscar as finanças pessoais no projeto de uma peça da Broadway
baseada em um conto de Raymond Carver. Nessa empreitada, ele enfrenta a
resistência de uma crítica mal-humorada do New York Times (personagem um pouco
exagerada no filme) e a dúvida sobre o próprio talento.
É
algo muito próximo da nossa realidade, em que estrelas de TV resolvem se
aventurar em desempenhos mais ambiciosos no teatro. Thiago Lacerda teve de
enfrentar muito nariz torcido quando interpretou Hamlet na montagem de Ron
Daniels que esteve em Porto Alegre em 2013.
Birdman
exibe o conflito entre ser uma estrela de cinema reconhecida pelos fãs na rua
ou um ator de teatro elogiado pela crítica, mas também trata de uma outra
oposição, ainda mais atual, representada pelo ponto de vista da filha de Riggan
Thomson. O que vale mais para você: ser aplaudido por um punhado de espectadores
na plateia por causa de um desempenho extraordinário ou visualizado por
milhares de pessoas em um vídeo na internet em que aparece caminhando na rua de
cueca?
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