24
de fevereiro de 2015 | N° 18083
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
NOVIDADES DO NOBEL DE 1964
O
Nobel é um fetiche poderoso. Qual outro prêmio literário oferece US$ 1 milhão,
aproximadamente, a um escritor, e o torna, de algum modo, eterno, ao menos nas
listas oficiais, do mundo inteiro?
Fetiche
maior para os brasileiros porque nunca tivemos nenhum dos nossos entre os
vencedores. Mal e mal um português chegou lá, e isso faz bem pouco, com José Saramago.
Drummond, João Cabral, Jorge Amado, Erico Verissimo, Guimarães Rosa, por
exemplo, poderiam ter sido agraciados com a láurea, mas não rolou.
Mesmo
um gigante como o argentino Jorge Luis Borges, talvez o único caso de latino-americano
que influenciou em vida escritores da França, não chegou lá – e diziam que o
bloqueio se deu por suas posições extremamente reacionárias, como quando
aceitou um prêmio do Chile de Pinochet, ocasião em que apertou a mão do general
assassino com grande gosto, porque o apoiava.
Matéria
desses dias, no Le Monde, abriu interessante segredo dos bastidores. É que no
mundo do Nobel são guardados por 50 anos os relatos e as atas das deliberações,
e justamente agora viemos a saber do que rolou na polêmica atribuição do Nobel
a Jean-Paul Sartre. Ele foi nomeado em 1964 – e recusou tudo, o prêmio e a
grana. (Nelson Rodrigues comentava essa negação e pensava no que aconteceria se
algum brasileiro ganhasse o Nobel. Antevisão do genial cronista: qualquer
brasileiro, ao receber um telegrama do rei da Suécia com a notícia, ia a nado
buscar a taça e o tutu.)
Naquele
1964, havia 66 candidatos, com seis finalistas: Sartre mesmo, Junichiro
Tanizaki, Mikhail Sholokhov, e mais, “apenas”, W. H. Auden, Eugène Ionesco (mas
ele era, segundo a ata do debate do júri, muito “unilateral em sua orientação
artística”, seja lá o que isso signifique) e, não menos, Samuel Beckett (mas
infelizmente “sua natureza negativista desesperada vai de encontro à essência
do prêmio”, disseram os bambas do momento).
Pelo
sim, pelo não, fica a dica.
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