sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Jaime Cimenti

Fla-Flu federal!

Sou do tempo em que Flamengo x Fluminense, o Fla-Flu, era o "clássico das multidões". Numa partida, o público beirou 200 mil, nos anos 1960. Agora, sinto que o Brasil parece estar, politicamente, no Maraca, num Fla-Flu federal, com dois times enormes digladiando. Briga de cachorros gigantes. Não digo que estamos num Gre-nal federal, pois aí vão dizer que é bairrismo gaúcho. De mais a mais, Gre-nal é um clássico de nível mundial. Nos últimos anos, com resultado final previsível, como se sabe.

Pois é, o Brasil está virado num grande Rio Grande, tipo assim, dividido. Nosso Fla-Flu político federal tem final ainda incerto, nesse País onde até a manchete de ontem é imprevisível.

Estou na arquibancada, assistindo ao jogo, torcendo, sofrendo, dando palpites e me metendo a técnico como todo mundo, propondo esquemas táticos, escalações e jogadas. Como ocupo este espaço público, devo e quero contribuir com algo positivo. Essa semana não me peçam para falar sobre dietas, shoppings, entrega do Oscar ou comportamento social na era digital.

A gente sabe que fora e dentro do campo está complicado conversar, mas é preciso. É preciso calma nessa hora. O jogo vai se desenvolvendo, a bola rolando, as jogadas se sucedendo para a direita, para a esquerda, para o meio, para a frente e para trás, se é que ainda existem essas classificações. Um gol aqui, outro ali, a bola voltando para o centro, como sempre. O juiz vai apitando, decidindo, os bandeirinhas se empinam, levantam suas bandeirinhas e a coisa vai seguindo.

Tem jogadores de um time que estão jogando no time do adversário, tem jogadores de outros times fora da dupla Fla-Flu que jogam no clássico, torcidas para cá e para lá, democraticamente. Técnicos vão e vêm. Tem torcedores querendo anulação do jogo, de olho em lances futuros. Quem disse que futebol e política são simples? Jogos da vida, intermináveis.

Resta torcer para o melhor ganhar, para que as regras sejam obedecidas. Nada de gol de mão, mesmo que seja a mão de Deus. É pedir para Nossa Senhora Aparecida abençoar este País e fazer as coisas se resolverem do modo o mais pacífico possível. Violência e radicalismo não devem interessar a ninguém. Se interessam para alguém, esse alguém certamente não nos interessa. Nossa população segue pacífica e busca caminhos institucionais para o Brasil.

Tomara que não haja quebra-quebra no final da partida, que não haja conflitos mortais entre torcedores. Desde o primeiro dia, os acadêmicos de Direito aprendem que não existe sociedade sem leis, ordem e Justiça. Não nos interessa a barbárie. Nossa democracia é jovem. Temos muito o que aprender. Todos nós. Eleitores e eleitos. Precisamos de uma federação que melhore a situação da maioria dos municípios e estados, que vivem de pires na mão na capital federal. Precisamos de união em torno dos interesses verdadeiramente nacionais. Sabemos que a desunião e as divisões têm causado prejuízos.

Mesmo antes do último apito e de eventuais manifestações da CBF e da Fifa, vamos tentar dialogar ao máximo, unir esforços. Com certeza é o melhor para todos. Se não for assim, os de fora tomam conta. Isso não queremos.

a propósito...

Claro que o humor e as piadas, que geralmente nascem em momentos difíceis, são essenciais para a vida e para nós, brasileiros, em horas complicadas como essa. Mas penso que levar tudo na brincadeira e exagerar no riso não é o melhor. É preciso procurar limites. Na vida familiar, nos bares, restaurantes, praças, nas redes sociais, shoppings e outros locais, não custa pensar duas vezes antes de falar ou agir. O respeito é bom, as pessoas gostam e segue fortalecendo parentescos, amizades e relações sociais e profissionais. Sei que parece romântico ou ingênuo falar assim num mundo de egos tão inflados, mas é isso que eu gostaria de dizer hoje.


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