17
de fevereiro de 2015 | N° 18076
PRAIA
VILAREJOS DE TAVARES
Balneários fantasmas entre a lagoa e o
mar
ABANDONADAS,
PEQUENAS COMUNIDADES próximas à beira da praia, formadas por pescadores e
veranistas, são consumidas pelas dunas no litoral sul do Estado
Parte
da história de Tavares, cidade litorânea 230 quilômetros ao sul de
Porto Alegre, vem sendo consumida pelo mar e pelas dunas. Lentamente, quatro
vilarejos abandonados estão sumindo do mapa. Precárias condições de acesso, o
avanço das dunas e do mar e a criação do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, em
1986, levaram as comunidades para outras regiões.
Na
Vila Barra da Lagoa, morada de mais de 200 famílias na década de 70, restam
apenas os escombros da escola municipal. Em Balneário Paiva, o menor deles,
nada sobrou das 24 casas contabilizadas em 1993 em um levantamento do Ibama, em
parceria com a Universidade Federal do Rio Grande (Furg). A dois quilômetros
dali, no balneário de Lagamarzinho, onde havia pelo menos 250 casas, duas ruas
foram engolidas pelo avanço do mar. Na debandada mais recente, sobrou até para
o Balneário de Talha-Mar, que já abrigou 180 famílias.
A
mais isolada das vilas fantasmas está distante 33 quilômetros do centro de
Tavares. Fundada por pescadores há pelo menos cinco décadas, a Vila da Barra da
Lagoa fica às margens da Lagoa do Peixe. Distante dois quilômetros do mar, ela
só é alcançada caminhando pela praia ou cruzando a lagoa nos períodos em que o
nível do espelho d’água está abaixo dos 60cm. Barra jamais teve energia
elétrica ou saneamento básico. Foi a criação da reserva ecológica, porém, que
fez os moradores desistirem de viver ali. Por se tratar de uma área de
preservação ambiental, o desenvolvimento do vilarejo ficou limitado.
– As
pessoas foram indo mais adiante, em direção ao Farol de Mostardas – conta o
funcionário público Gilberto de Araújo, 48 anos, que passou a adolescência
jogando no campo de futebol da vila.
Construído
por pescadores vindos das outras praias abandonadas, o Talha-Mar já nasceu, no
final dos anos 90, condenado ao fim rápido. Com a força do vento, as casas
foram soterradas em menos de cinco anos. O mar entrava na principal via de
acesso à praia em períodos de ressaca, abrindo valas com mais de um metro de
profundidade. Até hoje, mesmo em épocas sem chuva, há poças nas vias.
EX-MORADORES
FREQUENTAM TALHA-MAR DURANTE O DIA
Localizado
a 18 quilômetros
da BR-101, no fim da trilha que liga à Praia do Farol, única ainda habitada, o
Talha-Mar é o que mais parece uma vila fantasma. O silêncio entre as casas de
madeira, que parecem ter sido abandonadas às pressas, só é quebrado pelo som do
mar.
Para
que o balneário não desapareça, cerca de 10 pescadores percorrem as casas
durante o dia, pois não há energia elétrica. Ex-morador, Danilo de Souza, 62
anos, está entre os que insistem em continuar habitando o espaço, hoje
pertencente à reserva.
–
Sei que não posso mexer na minha casa porque está dentro da reserva. Só que não
consigo me desfazer do que construí. Visito todos os dias – diz Souza, que hoje
mora no centro de Tavares.
aline.custodio@diariogaucho.com.br
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