sábado, 21 de fevereiro de 2015


22 de fevereiro de 2015 | N° 18081
CLÁUDIA LAITANO

A colunista Martha Medeiros está em férias e retorna na próxima edição

Princesas

O mundo plácido das histórias infantis tornou-se uma espécie de arena em que diferentes concepções do gênero feminino se enfrentam e marcam posição

Era uma vez, num reino muito muito distante, uma princesa de longos cabelos dourados que um dia decidiu raspar o lado esquerdo da cabeça, fazer as malas e se mudar para uma cidade maior, onde arranjou um emprego e hoje mora sozinha com um vira-lata chamado Príncipe.

Nos dias de hoje, quase tudo pode acontecer com uma princesa da Disney. O mundo outrora plácido das histórias infantis feitas para fazer sucesso no cinema e vender toneladas de brinquedos tornou-se uma espécie de arena em que diferentes concepções do gênero feminino se enfrentam e marcam posição.

Branca de Neve (1937), Cinderella (1950) e Aurora (1959), as meigas realezas clássicas, estão para as princesas de hoje como sua tia Adelaide, que nunca trabalhou e colecionava pratinhos de porcelana, está para você, ocupada leitora.

Desde a pequena sereia Ariel (1989), que inaugurou a lucrativa linhagem das princesas modernas, para ser mocinha da Disney não bastam os cabelos longos e a voz doce. É preciso ser inteligente, corajosa e dona do próprio narizinho arrebitado – ainda que cinturinha fina e longos cabelos de propaganda de xampu continuem requisitos desejáveis.

O fato de as protagonistas de suas animações terem se aproximado do perfil dinâmico da mulher moderna nos últimos anos, porém, não garantiu trégua para a Disney – nem para suas princesas. Em algum lugar remoto na Internet, quando não em jornais e revistas, sempre tem alguém sugerindo que as princesas poderiam ter cinturas e cabelos de mulheres de verdade, só para variar, e que o mundo seria bem melhor se pelo menos no reino do faz de conta mocinhas de todas as cores, culturas e origens sociais tivessem direito a seus 15 minutos de sapatinho de cristal de vez em quando.

A Disney, vamos reconhecer, bem que se esforça. Já produziu guerreiras (Mulan, Merida), intelectuais (Bela), tem ampliado seu espectro étnico (Jasmin, Pocahontas, Mulan, Tiana) e de uns tempos para cá abriu mão até mesmo do final romântico convencional, mostrando que o amor verdadeiro pode ser entre mãe e filha (Valente) ou entre duas irmãs (Frozen).

Como a maioria das mães não sonha com filhas que fiquem dormindo cem anos à espera de um príncipe, é provável que a Disney continue sendo obrigada a empurrar suas princesas para fora dos castelos encantados.


Como o filme Caminhos da Floresta sugere, essa história de virar do avesso os contos de fada ainda está bem longe do final feliz.

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