22
de fevereiro de 2015 | N° 18081
CLÁUDIA
LAITANO
A
colunista Martha Medeiros está em férias e retorna na próxima edição
Princesas
O
mundo plácido das histórias infantis tornou-se uma espécie de arena em que
diferentes concepções do gênero feminino se enfrentam e marcam posição
Era
uma vez, num reino muito muito distante, uma princesa de longos cabelos
dourados que um dia decidiu raspar o lado esquerdo da cabeça, fazer as malas e
se mudar para uma cidade maior, onde arranjou um emprego e hoje mora sozinha
com um vira-lata chamado Príncipe.
Nos
dias de hoje, quase tudo pode acontecer com uma princesa da Disney. O mundo
outrora plácido das histórias infantis feitas para fazer sucesso no cinema e
vender toneladas de brinquedos tornou-se uma espécie de arena em que diferentes
concepções do gênero feminino se enfrentam e marcam posição.
Branca
de Neve (1937), Cinderella (1950) e Aurora (1959), as meigas realezas
clássicas, estão para as princesas de hoje como sua tia Adelaide, que nunca
trabalhou e colecionava pratinhos de porcelana, está para você, ocupada
leitora.
Desde
a pequena sereia Ariel (1989), que inaugurou a lucrativa linhagem das princesas
modernas, para ser mocinha da Disney não bastam os cabelos longos e a voz doce.
É preciso ser inteligente, corajosa e dona do próprio narizinho arrebitado –
ainda que cinturinha fina e longos cabelos de propaganda de xampu continuem requisitos
desejáveis.
O
fato de as protagonistas de suas animações terem se aproximado do perfil
dinâmico da mulher moderna nos últimos anos, porém, não garantiu trégua para a
Disney – nem para suas princesas. Em algum lugar remoto na Internet, quando não
em jornais e revistas, sempre tem alguém sugerindo que as princesas poderiam
ter cinturas e cabelos de mulheres de verdade, só para variar, e que o mundo
seria bem melhor se pelo menos no reino do faz de conta mocinhas de todas as
cores, culturas e origens sociais tivessem direito a seus 15 minutos de
sapatinho de cristal de vez em quando.
A
Disney, vamos reconhecer, bem que se esforça. Já produziu guerreiras (Mulan,
Merida), intelectuais (Bela), tem ampliado seu espectro étnico (Jasmin,
Pocahontas, Mulan, Tiana) e de uns tempos para cá abriu mão até mesmo do final
romântico convencional, mostrando que o amor verdadeiro pode ser entre mãe e
filha (Valente) ou entre duas irmãs (Frozen).
Como
a maioria das mães não sonha com filhas que fiquem dormindo cem anos à espera
de um príncipe, é provável que a Disney continue sendo obrigada a empurrar suas
princesas para fora dos castelos encantados.
Como
o filme Caminhos da Floresta sugere, essa história de virar do avesso os contos
de fada ainda está bem longe do final feliz.
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