26
de fevereiro de 2015 | N° 18085
L. F.
VERISSIMO
Protestos
Com
nenhum negro na lista de candidatos ao prêmio de melhor ator, a última entrega
dos Oscar prometia ser uma festa não só monocromática mas branca, também, no
sentido de engomada e sem nódoas. Acabou sendo um evento muito mais político do
que se esperava.
A
falta de negros entre os premiáveis foi compensada pela quantidade de negros
entre os apresentadores, e o maior homenageado da noite foi Martin Luther King,
apesar de o filme Selma, sobre a marcha contra o racismo e pelo direito do voto
que ele liderou em 1965 só ter merecido um prêmio, pela música. Mas a música,
Gloria (que também fala de incidentes raciais recentes, como o de Ferguson),
mexeu com a plateia, e seus dois intérpretes, ao agradecerem o prêmio, fizeram
fortes e bem articulados protestos contra o racismo que ainda persiste no país –
e também foram ovacionados.
O próprio
apresentador da noite, tão criticado pelo seu mau desempenho, deu uma leve
cutucada política na plateia quando esta aplaudiu o nome de Martin Luther King,
que durante tantos anos representou para os brancos a ameaça da insubmissão dos
negros: “Agora vocês gostam dele...”.
Também
houve protestos contra a discriminação das mulheres no mercado de trabalho e
contra a homofobia, e – para completar o que foi tudo menos uma noite branca – o
filme premiado na categoria de documentário longo foi sobre o Edward Snowden,
que está proibido de entrar nos Estados Unidos depois que revelou segredos da
bisbilhotice mundial praticada pela Agência de Segurança Nacional americana.
Também
ovacionado. E, como se não bastasse tudo isso, o maior premiado da noite foi um
diretor mexicano, o que valeu como um protesto velado contra as leis de imigração
americanas que o Obama está tentando mudar.
TOMADAS
O
filme premiado do mexicano, Birdman, é bom. Sua proeza técnica mais comentada –
o filme é feito no que parece ser uma única tomada, sem cortes, do começo ao
fim – já tinha sido realizada pelo Alfred Hitchcock em Festim Diabólico ou
coisa parecida. Como os rolos de negativos da época (1948) só duravam 10
minutos, Hitchcock se obrigou a grandes malabarismos para disfarçar os cortes. Brian
de Palma também gostava de tomadas longas, embora nunca, que eu saiba, fizesse
um filme inteiro com uma tomada só.
E o
mais recente exemplo de tomada inacreditável foi no filme argentino O Segredo
dos seus Olhos, em que a câmera começa focando um estádio de futebol do alto,
vai descendo, descendo e acaba enquadrando em close o rosto de um homem no meio
da torcida do Racing, sem que se note quando a câmera do helicóptero vira a câmera
do close. De certa maneira, Hitchcock também foi um grande homenageado na noite
dos Oscar.
CUIDADO
Entre
as muitas razões para se assistir ao Porta dos Fundos, estava a Leticia Lima,
rara combinação de beleza e talento, e – mais raro ainda – talento para a comédia.
Li que ela foi contratada pela Globo, ainda não se sabe para o quê. Olhe lá o
que vão fazer com a moça, Globo!
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