GUILHERME
FIUZA
31/12/2014
08h00
O Brasil tem quatro anos para virar a
Argentina
Ou
levamos a investigação do petrolão até o fim – ou então já pode ir fazendo as
malas
Uma
grande empreiteira pagou R$ 886 mil a uma empresa de José Dirceu e obteve, em
seguida, um contrato com a Petrobras no valor de R$ 4,7 bilhões, para realização
de serviços na Refinaria Abreu e Lima. Para quem não lembra, essa é a famosa
obra que multiplicou seu valor original pelo menos três vezes e passou dos R$ 40
bilhões. A reportagem de ÉPOCA que mostra a triangulação camuflada sob uma “consultoria”
de Dirceu ajuda a entender por que essa refinaria ficou 200% mais cara que ela
mesma. Há um outro sócio fundamental dessa transação: o eleitor de Dilma
Rousseff.
Essa
triangulação, descoberta pela Polícia Federal na blitz conhecida como “Dia do
Juízo Final”, se deu entre 2010 e 2011. Exatamente quando Dilma ascendia à Presidência.
E Dirceu já era réu no processo do mensalão. As cartas já estavam na mesa, e os
anos seguintes apenas as revelaram: Dirceu condenado, e o petrolão descoberto.
Quando
foi às urnas em outubro passado, o eleitor brasileiro já sabia de tudo: que
cardeais petistas haviam plantado uma diretoria na Petrobras para roubar a
empresa em benefício da sustentação de seu projeto de poder. Exatamente a mesma
tecnologia do mensalão, também tramado de dentro do Palácio do Planalto. Quem
votou pela reeleição de Dilma, mesmo que alegue esquerdismo, progressismo,
coitadismo ou cinismo, é sócio político do esquema.
A
pergunta é: o que será do Brasil nos próximos quatro anos? Algumas vozes
respeitáveis têm oferecido um ombro amigo ao governo popular – não para que ele
chore suas lágrimas de crocodilo, mas para que não caia de podre. É a tese de
que o impeachment é pior para o país do que carregar por quatro anos um governo
na UTI. Tudo bem. Só falta combinar com os russos. O segundo mandato de Dilma
Rousseff nascerá desmoralizado no país e no exterior. Nesse cenário, como
investir no Brasil? Como respeitar as instituições? Como concordar e se
submeter às regras do jogo, se o juiz se vendeu na cara de todo mundo?
O
mais ortodoxo dos contribuintes, aquele que jamais cogitou sonegar impostos,
está revoltado com cada centavo que paga ao Fisco. Caiu a máscara social do PT –
e agora todos já sabem que a trilionária arrecadação da União está a serviço de
uma indústria de privatização da política. Daí os níveis de investimentos irrisórios,
a estagnação da infraestrutura, o desperdício de uma década de bons ventos econômicos
sem avançar um milímetro nos sistemas de saúde e educação – enquanto o sistema
de corrupção cresceu admiravelmente (o mensalão é troco diante do petrolão), e o
bom pagador de impostos não tem mais dúvidas: estão me fazendo de otário.
Traduzindo:
o contrato republicano foi rasgado. Se o brasileiro não fosse essa doçura, o
primeiro governista que falasse na volta da CPMF seria crucificado em praça pública.
Por meio de um dublê de bobo da corte e ministro da Fazenda, o governo
assegurou que estava tudo bem com as contas públicas – até avisar, passada a
eleição, que daria o golpe na Lei de Responsabilidade Fiscal. A tropa
companheira marchou sobre o Congresso e incinerou, ao vivo, o principal
compromisso com a saúde financeira nacional. É isso aí: torramos o dinheiro do
contribuinte e mudaremos a meta na marra, para legalizar o rombo.
O
projeto parasitário do PT está empobrecendo democraticamente ricos e pobres. É sempre
indesejável a metáfora do câncer, mas não há descrição mais precisa dessa autópsia:
um projeto de poder que plantou células degenerativas a cada movimento no
organismo estatal. Como será o embate do respeitável Joaquim Levy com toda a
teia de artifícios montada para gerar a famosa contabilidade criativa? Haja
quimioterapia.
Seria
até esperançoso imaginar que, agora, haverá 100% de esforço e sacrifício em
prol do tratamento rigoroso. Só que não... O ponto a que chegou o plano petista
não tem volta. A única chance de Dilma, Lula & Cia. é ajeitar as aparências
e dobrar a aposta. Do contrário, a mitologia acaba e, aí sim, todos eles pagarão
muito caro pelo que fizeram ao Brasil.
Ou o
país leva às últimas consequências a investigação do petrolão – se for séria,
ela levará a uma inevitável faxina no Palácio – ou pode ir fazendo as malas
para a Argentina.
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