08
de janeiro de 2015 | N° 18036
DAVID
COIMBRA
Cada vez mais o mundo precisa dos
Estados Unidos
Sou
um vendido. Sou um deslumbrado. Entreguei-me ao capitalismo.
Verdade
que meu deslumbramento é meio fajuto, é um deslumbramento fácil demais. Quando
morei em Criciúma, deslumbrei-me com a cidade. Adorava-a, e a adoro ainda. Sou
um criciumense adotivo.
Quando
morava no IAPI, era um deslumbrado com o bairro. De fato, sou. Considero o IAPI
o pedaço mais bucolicamente suburbano de Porto Alegre. Ou mais suburbanamente
bucólico, escolha.
Agora,
estou deslumbrado com os Estados Unidos.
Se
bem que, aí vai outra confissão, que hoje é dia de confissões, se bem que
sempre fui admirador dos Estados Unidos. Um pouco pela pujança do seu cinema e
da sua música, muito pelas calças jeans e pela Megan Fox, mas sobretudo pelos
princípios que cimentaram a construção desse país.
Os
americanos dizem que esta é a pátria da liberdade. E é. Os pioneiros que vieram
para cá, exatamente para cá, para a Nova Inglaterra, vieram em busca de tolerância
religiosa e para formar uma nova nação, baseada na liberdade individual e na
igualdade de oportunidades. Atingiram ambos os objetivos. Os Estados Unidos se
transformaram em um país grande, complexo, cheio de falhas e contradições, mas
seus princípios fundadores continuam os mesmos. Durante sua história, houve
abalos graves, como a aceitação da escravidão e a intolerância gerada pelo 11
de Setembro, mas, ao fim e ao cabo, os princípios originais venceram e até se
robusteceram.
Atentados
como o cometido ontem, em Paris, são capazes de produzir na Europa o efeito que
o 11 de Setembro produziu nos Estados Unidos, com o agravante de que os
europeus não dispõem da proteção das convicções históricas americanas. Lembre-se:
nos Estados Unidos, nunca houve um rei, nunca houve um ditador, nunca houve
espaço para a tirania. Na Velha Europa, sim.
Existem
ondas anti-islâmicas e anti-imigrações na Europa, e ações do gênero da que
ocorreu ontem, na França, só servem para justificá-las.
Ao
mesmo tempo, um ataque contra uma revista, isto é, contra a imprensa, reúne-se
a uma série de pequenos atentados que vêm sendo cometidos contra a liberdade de
expressão, seja sob forma de agressão física, seja pela coerção exercida pelos
vigilantes do comportamento das redes sociais, seja sob o estabelecimento de
censura legal, como já se deu na Inglaterra, em Portugal e ora é tentado no
Brasil, por esse governo, justamente por “esse” governo.
Nos
Estados Unidos, isso não acontece. Nos Estados Unidos, isso seria impossível. Os
Estados Unidos são, sim, a terra dos homens livres, mas são também a terra da
lei. Seres humanos de todas as curvas do planeta vivem aqui, debaixo de quipás
ou de burcas, ajoelhando-se para Meca ou diante de uma cruz, cada qual podendo
trabalhar, professar seu culto e falar o que quiser, desde que dentro da lei.
Eis
o exemplo a seguir. O da hidra capitalista de mil cabeças. O da besta-fera da
iniciativa pessoal. Entregue-se você também. Deslumbre-se. E seja livre.
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