08
de janeiro de 2015 | N° 18036
LUCIANO
ALABARSE
EMBATES DURÍSSIMOS
Final
de um ano marrento/começo de outro igualmente difícil, época perfeita para
entrar no clima “paz e amor” que o período enseja. Regido por Ogum e Iansã, o
ano promete embates duríssimos. Por isso mesmo, na virada do dia 31 pedi aos
duendes do universo que atendessem cinco desejos de um homem teimosamente
crente. Demasiadamente humanos, reais, meus pedidos miraram forças
transformadoras para:
a) Iluminar
os corações e mentes dos Bolsonaros da vida, cujas posturas me soam repulsivas,
indignas de homens de bem. Que as Marias do Rosário se fortaleçam ante a sanha
machista desses caras;
b) Erradicar
episódios racistas e homofóbicos do solo brasileiro, incompatíveis com a ideia
de um país equânime e solidário;
c) Desgrenalizar
o nosso combalido Rio Grande, para que não afundemos em desgastadas picuinhas
partidárias. Nós, gaúchos, temos o dever de evitar o naufrágio do Titanic. Nosso
navio já bateu no gelo;
d) Esclarecer
os conceitos antropológicos que se grudam às leis de incentivo à cultura. Moda
e culinária, por exemplo. É justo que existam leis específicas para esses
setores. Sem discussão. Mas misturar tudo no saco das artes cênicas só dificulta
o que já é, em si, muito difícil;
e) Perdoar
um mundo onde homens adultos se dão o direito de invadir escolas e atirar na
cabeça de estudantes adolescentes. Não há o que me faça entender uma coisa
assim.
Clarice
Lispector, durante anos, escreveu uma coluna no Jornal do Brasil. Uma vez,
queria encerrar o texto com um “feliz Ano-Novo” aos seus leitores, mas mudou de
ideia. Que o ano fosse feliz não lhe parecia importante. Mas que, por pura
alegria de viver, fosse um ano realmente novo! Cravou um definitivo “novo Ano-Novo”
a todos. E quem sou eu pra contradizer Clarice? Mas, em dúvida, ouvindo Rainha
dos Raios, o maravilhoso disco novo de Alice Caymmi, meu coração resolveu
acreditar no que o Jânio de Freitas disse outro dia: “Dias melhores verão!”.
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