04
de dezembro de 2013 | N° 17634
MARTHA
MEDEIROS
Histórias
verdadeiras
Quando
me convidaram para assistir a uma nova modalidade de stand-up que está sendo
implantada no Brasil (e que já funciona com sucesso nos Estados Unidos), fiquei
curiosa. A ideia é levar pessoas comuns para compartilharem, no palco de um
bar, a sua trajetória de vida. Em 12 minutos, a pessoa, sem ajuda de anotações,
espontaneamente, conta sua história real, que pode ter a ver com superação, sorte,
risco ou qualquer coisa que não seja trivial. Cômica ou trágica, pouco importa.
Na
noite do projeto-piloto, eu estava na plateia. Foram cinco convidados a falar.
Um diretor de teatro contou o que ele e seu companheiro passaram para adotar
duas crianças. Um músico contou sobre o momento em que descobriu que tinha um
câncer no estômago e do acidente de carro que sofreu um dia antes da cirurgia.
Uma garota contou sua experiência vivendo num país estrangeiro, quando fez uma
besteira e acabou presa. Um personal trainer contou sobre como deixou de ser um
adolescente obeso, perdendo cerca de 40 quilos e tornando-se um amante dos
esportes. E, por fim, uma mulher viciada em limpeza e arrumação contou como
controla o TOC – transtorno obsessivo-compulsivo.
Nós
cruzamos por eles todos os dias nas ruas. São exatamente como você e eu. Comem
pizza, vão ao cinema, namoram, correm no parque. Olhando assim, nem diríamos
que já viveram um roteiro pronto para um filme. A questão é: quem, com pelo
menos uns 30 anos de idade, não teria algo significativo para contar? Todos, ou
quase todos nós, já passamos por um turning point, uma perda, uma dificuldade,
uma experiência surreal. Não há vida que seja irrelevante.
Em
12 minutos, uma pessoa comum, ao vivo, pode oferecer um reality show muito mais
interessante do que três meses de episódios diários de Big Brother, pois ela
está ali, na frente de estranhos, meio nervosa, constrangida, relembrando algo
muito particular, como se estivesse numa sessão de terapia em grupo. Não há figurino,
nem texto decorado, nem direção de cena. É simplesmente alguém falando algo que
nunca postará no Facebook.
Para
que serve isso?
Para
quem fala, sinceramente, não sei. Se quiser, você pode se inscrever
(www.historiasverdadeiras.com.br) e descobrir como é a sensação, caso seja
escolhido – haverá uma apresentação por mês em Porto Alegre, a partir de
janeiro.
Para
quem ouve, é uma oportunidade de cair na real neste mundo onde tudo nos é
apresentado com alguma maquiagem. É a chance de dar uma colher de chá ao que é
estritamente humano. É uma possibilidade de se emocionar sem uma tela separando
você de quem conta a história. É ser plateia de um striptease inusitado: ver
alguém despindo a alma. É perceber que nem sempre a arte e o talento são
necessários para uma narrativa – a realidade crua também tem seus encantos. É
sentir-se lisonjeado pela confiança de quem não teme ser julgado. É testemunhar
o humor, o jogo de cintura, a capacidade de relativizar e as saídas encontradas
por desconhecidos.
Numa
época em que muitos se exibem, mas poucos se revelam, está aí uma novidade.
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