22
de dezembro de 2013 | N° 17652
PAULO
SANT’ANA
O valor da
liberdade
Nunca
estive preso. Por sorte. Acho que não suportaria a monotonia de ver-me
encerrado em quatro paredes durante dias, meses, anos.
Sem
dúvida, esse deve ser o pior castigo que os homens inventaram para outros
homens.
Um
calabouço deve ser uma tragédia. Esses dias, escrevi sobre Barrabás, o ladrão
que foi oferecido ao povo por Pilatos para ser crucificado no lugar de Cristo,
o que não foi aceito, evidentemente. Pois aquele Barrabás tinha passado 40 anos
debaixo da terra, sem ver a luz do sol durante um só instante. Os homens são
mesmo maus nos castigos que inventam para seus semelhantes.
Este
Nelson Mandela que morreu há pouco e recebeu honras fúnebres aclamadas pelo
mundo inteiro, passou 27 anos atrás das grades.
Dizem
exóticas línguas que, de tanto mofar na cadeia, o preso se acostuma com a
prisão e não quer sair mais dela, sem saber o que faria com a liberdade.
Dizem
até que, como certos pássaros de gaiola que se recusam a sair da prisão mesmo
que abram para eles a portinhola, alguns criminosos ou vagabundos cometem
crimes somente porque já não suportam mais a liberdade e querem se recolher à
prisão.
Prefiro
a ideia proverbial dos presos que fogem espetacularmente das prisões ou tentam
fugir e são surpreendidos pelos carcereiros.
Para
mim, os homens vivem para serem livres e tudo que tolha essa liberdade deve ser
execrado, como o casamento.
E
suponho que o choque que leva um homem condenado a anos de prisão deve ser
igual ao de um homem que passou mais de 20 anos na prisão e é posto em
liberdade: os dois perdem um jeito de viver que tinham.
Outra
pena perversa que os homens inventaram: a prisão perpétua. Porque uma coisa é o
detento ser recolhido à prisão e saber qual a sua pena, conhecer a data em que
será libertado.
Outra
coisa é a prisão perpétua, quando o preso recolhido à prisão leva consigo a certeza
de que jamais voltará à liberdade.
Tenho
certeza de que um homem que guarda a certeza da sua prisão perpétua preferirá a
pena de morte. Ou será que não, e a vida ainda será o maior valor que então
preservará?
Pior
do que a situação dos detentos de prisão perpétua deve ter sido a daqueles
escravos que nunca eram libertados. Além de perderem a liberdade, eles eram
privados de descanso, de boa alimentação e muitos deles também eram impedidos
de constituírem famílias, quando não eram separados cruelmente delas.
Eu
sei que os criminosos são maus, mas igualmente perversos foram muitos homens
através dos tempos para escolherem as penas criminais que se derrubavam sobre
os delinquentes.
E
nesse caso cabe uma dúvida: quem foi pior na vida, os presos ou aqueles que os
sentenciaram a cruéis prisões e destinos?
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