sábado, 21 de dezembro de 2013


22 de dezembro de 2013 | N° 17652
PAULO SANT’ANA

O valor da liberdade

Nunca estive preso. Por sorte. Acho que não suportaria a monotonia de ver-me encerrado em quatro paredes durante dias, meses, anos.

Sem dúvida, esse deve ser o pior castigo que os homens inventaram para outros homens.

Um calabouço deve ser uma tragédia. Esses dias, escrevi sobre Barrabás, o ladrão que foi oferecido ao povo por Pilatos para ser crucificado no lugar de Cristo, o que não foi aceito, evidentemente. Pois aquele Barrabás tinha passado 40 anos debaixo da terra, sem ver a luz do sol durante um só instante. Os homens são mesmo maus nos castigos que inventam para seus semelhantes.

Este Nelson Mandela que morreu há pouco e recebeu honras fúnebres aclamadas pelo mundo inteiro, passou 27 anos atrás das grades.

Dizem exóticas línguas que, de tanto mofar na cadeia, o preso se acostuma com a prisão e não quer sair mais dela, sem saber o que faria com a liberdade.

Dizem até que, como certos pássaros de gaiola que se recusam a sair da prisão mesmo que abram para eles a portinhola, alguns criminosos ou vagabundos cometem crimes somente porque já não suportam mais a liberdade e querem se recolher à prisão.

Prefiro a ideia proverbial dos presos que fogem espetacularmente das prisões ou tentam fugir e são surpreendidos pelos carcereiros.

Para mim, os homens vivem para serem livres e tudo que tolha essa liberdade deve ser execrado, como o casamento.

E suponho que o choque que leva um homem condenado a anos de prisão deve ser igual ao de um homem que passou mais de 20 anos na prisão e é posto em liberdade: os dois perdem um jeito de viver que tinham.

Outra pena perversa que os homens inventaram: a prisão perpétua. Porque uma coisa é o detento ser recolhido à prisão e saber qual a sua pena, conhecer a data em que será libertado.

Outra coisa é a prisão perpétua, quando o preso recolhido à prisão leva consigo a certeza de que jamais voltará à liberdade.

Tenho certeza de que um homem que guarda a certeza da sua prisão perpétua preferirá a pena de morte. Ou será que não, e a vida ainda será o maior valor que então preservará?

Pior do que a situação dos detentos de prisão perpétua deve ter sido a daqueles escravos que nunca eram libertados. Além de perderem a liberdade, eles eram privados de descanso, de boa alimentação e muitos deles também eram impedidos de constituírem famílias, quando não eram separados cruelmente delas.

Eu sei que os criminosos são maus, mas igualmente perversos foram muitos homens através dos tempos para escolherem as penas criminais que se derrubavam sobre os delinquentes.


E nesse caso cabe uma dúvida: quem foi pior na vida, os presos ou aqueles que os sentenciaram a cruéis prisões e destinos?

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