24/12/2013
e 25/12/2013 | N° 17654
PAULO
SANT'ANA
A inveja boa
Leio
frequentemente que existe um tipo de inveja boa. E eu concordo que exista a
inveja boa. Dou até um exemplo de inveja boa: eu invejaria um determinado
colunista de Zero Hora que entendo seja mais brilhante do que eu.
Mas
eu simplesmente curtiria essa inveja, no campo precípuo da admiração. Essa é a
inveja boa, a da simples admiração.
Já
na inveja má, eu desejaria que ficasse impossibilitado definitivamente de
escrever esse colunista da Zero Hora que admiro. Essa é a inveja má.
Em
suma, a inveja má consiste fulcralmente em que se queira a eliminação física ou
intelectual de uma pessoa que, sabemos, nos supera. A inveja boa é aquela em
que nos conformamos que uma pessoa nos supere.
Quando
não nos conformamos e queremos o mal de quem nos supera para que com isso deixe
de superar-nos, essa é a inveja má.
Explicando
melhor: um torcedor do Flamengo sabe que o time do Vasco é melhor do que o seu.
Se ele só rende homenagem ao rival superior, é uma inveja boa. Se ele, no entanto,
deseja que caia o avião com a delegação do Vasco, essa é a inveja má ou
perversa.
Na
inveja boa, só admiramos nosso invejado. Na inveja má, queremos a destruição do
nosso invejado, uma vez que, sendo ele destruído, não poderá então jamais nos
superar.
Na
inveja boa, no fundo amamos aquele a quem invejamos, não tendo nada a fazer
sobre o fato de que ele nos supera. Na inveja má,odiamos no fundo e no raso a
quem invejamos,tanto que gostaríamos que ele fosse destruído para deixar de
superar-nos.
Vejam
o caso de Abel e Caim. No Paraíso,Caim matou seu irmão Abel.
Certamente,
o móvel do assassinato de Abel por Caim foi a inveja: porque talvez Abel fosse
mais belo ou inteligente do que Caim. E a única forma que Caim encontrou para
que Adão e Eva, seus pais, deixassem de gostar de Abel foi matá-lo.
Nesse
caso proverbial que o Velho Testamento escolheu para exemplificar a má inveja,
notamos descarado desejo do invejoso de destruir o invejado.
O
invejoso, assim, não tem admiração pelo invejado: tem é ódio mesmo. E, como
vemos nessas hipóteses todas, a inveja boa nasce da admiração e a inveja má
nasce do (no) ódio.
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