sexta-feira, 13 de dezembro de 2013


13 de dezembro de 2013 | N° 17643
PAULO SANT’ANA

As mutucas

Conta a lenda que certa vez, em Farroupilha, na serra gaúcha, um prefeito baixou um decreto excêntrico, levando em conta a acirrada rivalidade existente no município entre os torcedores colorados e gremistas.

Então, o prefeito, que era fanático gremista, baixou o decreto de que todo torcedor colorado que morresse na cidade seria enterrado no cemitério local a 10 metros de profundidade.

Justificativa escrita do decreto: no fundo, no fundo, os colorados são boa gente, afirmava o prefeito.

Gargalo, como se sabe, é o colo da garrafa. O dicionário registra a palavra gargalo como garganta, obstáculo, empecilho.

Uma vez, vi uma mulher que era dada a muitas conquistas amorosas dizer o seguinte: “Vou passar a maioria dos meus namorados no gargalo, vou me dedicar doravante somente aos que ultrapassarem esse obstáculo”.

Como se nota, gargalo também quer dizer peneira.

Gozado é que o prefixo gar, a julgar pelo que estou expondo, é quase sempre ligado a garganta: é o caso de gargarejo e até de certa forma do verbo garrular, que quer dizer tagarelar, parolar, e também o indivíduo, quando é muito gabola e falador, é classificado de garganta.

Concluo me recordando de que as palavras gargalhar e garrafa derivam dessa mesma origem.

Uma vez, escrevi que a palavra sonoramente mais bela do idioma português é pirilampo. Fui investigar a fundo a origem dessa palavra e vi que piri é uma espécie de junco e que se fundiu com lampo, que quer dizer relâmpago.

Ou seja, cheguei à conclusão de que pirilampo teve origem em relâmpago quando bate no junco.

O pirilampo, portanto, é o mesmo que vagalume, mas aí já pode sobrevir outra história, afinal lume é mesmo o quê?

Ia me esquecendo de dizer que tenho horror a cobras. Não sei de onde veio a expressão cobras e lagartos: porque não tenho medo de lagartos, só de cobras. E é claro que só tenho medo de cobras porque muitas delas são venenosas.

Não sei distinguir as cobras venenosas das não venenosas. Para mim, são todas iguais: as jararacas, as corais, as cascavéis, as jiboias, todas. Por sinal, tem um ditado que acho muito interessante: “Depois que mataram a jiboia, jararaca deita e rola”. É uma festa na selva.

Eu tenho medo da cobra porque tenho medo da picada dela. A picada consiste na injeção do seu veneno.

Engraçado, há alguns animais que são venenosos mortalmente. E há animais que são venenosos mas não matam, vejam por exemplo as mutucas, insetos que quando picam a gente produzem uma dor danada, que dura uns dois minutos, mas não matam.

Mas, falando em cobras venenosas, há uma de nome exótico: a áspide.

Mas a serpente mais famosa de todas continua a ser a naja, por sinal a cobra que foi retirada de um pote por Cleópatra para suicidar-se com sua picada, depois que ela e Marco Antônio, unidos contra Roma, foram derrotados por Otaviano numa batalha final retumbantemente histórica.


Otaviano queria expor Cleópatra pelas ruas de Roma, mas a rainha egípcia optou pelo suicídio.

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