14
de dezembro de 2013 | N° 17644
EDITORIAIS
A VIDA É A PRIORIDADE
É difícil
de entender a hesitação do ministro Guido Mantega em relação à entrada em vigor
da exigência de airbag e freios ABS nos veículos novos fabricados no país. O
governo teme que a obrigatoriedade dos equipamentos, somada à retomada do
Imposto sobre Produtos Industrializados, possa provocar aumento de preços nos
automóveis, mexer com a inflação, provocar desemprego e isso ninguém admite
oficialmente causar prejuí-zos eleitorais aos atuais ocupantes do poder. Por
isso, e também por pressão de fabricantes e metalúrgicos, o ministro da Fazenda
admite adiar a medida para 2016.
Do
ponto de vista da segurança, é um verdadeiro absurdo, especialmente num país
que contabiliza 50 mil mortes por ano no trânsito. Quantas vidas mais serão
perdidas nos dois anos de tolerância pretendidos para a instalação dos
equipamentos protetores? Ora, o cinto de segurança e a cadeirinha para crianças
também elevaram o custo dos veículos para os usuários – mas as vidas salvas
desde que foram adotados não têm preço.
Questões
de natureza econômica ou política não podem prevalecer sobre a proteção de
seres humanos. Médicos e especialistas em segurança do trânsito dizem que
airbags evitam contusões torácicas graves na maioria das colisões. Em países
desenvolvidos, o equipamento já é obrigatório há vários anos. No Brasil,
estabeleceu-se um cronograma para a obrigatoriedade: 8% dos veículos novos em 2010,
60% até 2012 e 100% a partir de 1º de janeiro de 2014. Agora, o governo planeja
o descumprimento da própria decisão.
Ainda
há tempo, porém, para uma reconsideração. Este é um daqueles casos que merecem
mobilização da sociedade e manifestação pelas redes sociais, pois a implantação
dos equipamentos de segurança nos veículos não interessa apenas aos fabricantes
e aos trabalhadores da indústria automobilística. Interessa a todos. Se o
airbag protege essencialmente condutores e passageiros, o freio ABS aumenta a
segurança dos tripulantes e também dos pedestres, pois impede o veículo de
derrapagem no momento de uma parada brusca. Não há por que perder mais tempo
neste aperfeiçoamento dos carros fabricados no Brasil.
Uma
vida vale muito – e, por isso, itens de segurança comprovadamente eficazes não
podem ser negociados como opcionais. Já estamos atrasados na implantação desta
medida. E o governo não pode ter dúvida de que o seu adiamento por motivações
eleitorais acabará resultando em prejuízo maior para a sua imagem, até mesmo
porque o retrocesso tende a ser lembrado cada vez que ocorrer um acidente grave
nas estradas do país.
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