17
de dezembro de 2013 | N° 17647
DAVID
COIMBRA
Coisas de meninos
Estou
muito velho para amadurecer. Outro dia, um homem dotado de alguma sabedoria me
disse: – Você parece um menino.
Não
fisicamente (preferia que fosse fisicamente). Espiritualmente. Ele queria dizer
que meus sentimentos ainda são os de um menino, para o bem e para o mal.
E é verdade.
O que é um problema. Afinal, não sou mais um menino em termos cronológicos. Maldita
cronologia.
Isso
de ser adulto, isso é com as mulheres. As mulheres são racionais com seus
sentimentos. Têm autocontrole. Tomam decisões. Muito irritante.
É por
isso que admiro tanto as mulheres, esses seres superiores. Elas são donas do
mundo. Sempre foram. Antes, quando elas eram oprimidas e discriminadas, na
verdade elas toleravam essa opressão e essa discriminação, e a permitiam, como um
pai permite certas manhas do filho. Era-lhes confortável, elas estavam
preocupadas com assuntos mais importantes. Se nós homens tivéssemos sido
competentes no nosso domínio, elas continuariam nos deixando com a ilusão do
poder.
Mas,
não. Nós fomos como os nazistas quando invadiram a Europa. Em alguns lugares,
como na Áustria e na Checoeslováquia, os nazistas foram recebidos com festa,
como uma espécie de salvadores. Mas foram tão tiranos, tão... nazistas, que
logo os movimentos de resistência foram postos em atividade.
As
mulheres, muito mais racionais, calculistas, muito mais adultas do que nós, as
mulheres aceitaram o domínio masculino até perceberem que não estava dando
certo. Então, elas se levantaram e se ombrearam aos homens, e agora o mundo é delas.
Pena
que não vai dar certo também. Elas estão seguindo o mesmo caminho errado que nós
traçamos. O caminho certo a percorrer era outro, era o antigo, o das mulheres
condescendentes do passado. O caminho da simplicidade.
De
qualquer forma, o fato é que elas são adultas, e nós, não. Nós precisamos
extravasar nossa infantilidade. É por isso que pintamos a Gioconda e tiramos de
um bloco do mármore de Carrara a Pietà e escrevemos Crime e Castigo e nos
matamos em guerras cruentas. É por isso, também, que inventamos o futebol.
O
futebol é a expressão da meninice do homem. Que importância tem se um time é campeão
ou se é rebaixado? Nenhuma. Absolutamente nenhuma. Mas nós homens nos
importamos com isso, e agora muitas mulheres também se importam, provando que elas
realmente seguiram o caminho errado.
O
futebol é uma brincadeira de meninos, nada mais do que isso. Movimenta bilhões
de dólares, faz a glória ou a desgraça de milhares, muda a vida de outros
milhares, mas, no cerne duro, não passa de uma brincadeira de meninos.
Meninos
podem fazer coisas boas, coisas geniais, coisas sublimes. Mas, da mesma forma,
podem fazer coisas horríveis. Aqueles seres humanos sem camisa que quase se
mataram a socos, pauladas e pontapés, em Joinville, são meninos. Meninos maus. Mulheres
jamais fariam aquilo. Mulheres são adultas.
Ou,
pelo menos, a maioria das mulheres era adulta. Elas estão se modificando. Estão
se tornando cada vez mais parecidas conosco. Tenho medo do que elas podem se
tornar. Se algum dia dois bandos de mulheres que não se conhecem fizerem algo
semelhante ao que fizeram os torcedores em Joinville, se algum dia virmos cenas
como aquelas protagonizadas por grupos de mulheres, aí, oh, Deus, aí tudo
acabou.
Aí não
haverá mais esperança. Mas ainda acredito nas mulheres. Acredito que elas
conseguirão compreender que o caminho é outro, que darão meia-volta e que nos
conduzirão pela vereda da luz. Só as mulheres podem fazer isso. Ainda há tempo.
Mas não muito.
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