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CARRASCO - 13/12/2013 21h28 - Atualizado em 13/12/2013 21h28
Como dar seu presente de Natal
Presentes
práticos são os que menos entusiasmam. E fuja de liquidações!
Adiei
o que pude. Xinguei o sistema de consumo. Agora tenho de tratar dos presentes
de Natal. Nem preciso ir à academia. Gastarei minhas calorias andando por
lojas, atravessando shoppings e mergulhando em multidões exaltadas em torno de
caixas lentos.
Tenho
uma teoria a respeito de presentes, ótima para o Natal. Presentes se dividem
entre: de luxo, práticos e criativos. De forma geral, a regra é a seguinte: quanto
menor a caixinha, mais rico quem ganha ou quem dá. Quanto maior, menos grana no
pedaço. Claro, há exceções.
Mas
brincos de brilhantes, gargantilhas de rubis exigem embalagens pequenas. Uma máquina
de lavar é um pacotão. Se você tem muito dinheiro, está fácil. Um relógio de
marca famosa, champanhe Dom Perignon, Veuve Clicquot ou Cristal sempre são bem
acolhidos, assim como bons vinhos, charutos cubanos, bolsas de grife
exclusivas, lanchas, carros zero.
Todo
mundo adora rico que bota presente bom na mesa. Aquele adágio que milionários e
mestres de etiqueta adoram declamar – “ser elegante é ser simples” – é mentira.
Se alguém tem um amigo rico, odiará um presentinho qualquer. Quer que o rico
mostre quem é, dando algo de luxo. Confesso: recentemente ganhei um conhaque
Louis XIII. Já falei dele aqui, custa mais de R$ 12 mil a garrafa. Meu coração
tremeu de emoção.
– Como
alguém pode gastar tanto comigo? – pensei, com os olhos faiscando de autoestima.
Depois,
é claro, escondi a garrafa. Sou filho de pobre. Não correrei o risco de que
algum amigo bebum enxugue meu conhaque. Eu mesmo o beberei de gota em gota. Mais
tarde, quando a preciosidade acabar, encho a garrafa com um conhaque comum e
sirvo a quem vier, para parecer generoso.
A
categoria luxo impressiona. Mas o criativo funciona para ricos e pobres. Tem
toda a chance de se tornar inesquecível. Por exemplo, um pacote de argila
fresca dado a uma criança na noite de Natal é inesquecível. Para a mãe e a dona
da casa. Mas a criança vai adorar! Fuja de filhotes de cães ou gatos. Bichos a
gente só dá a quem realmente quer. Já ganhei um presente criativo e inesquecível,
entre muitos, de minha amiga Lucilia Diniz.
Quando
fiz 60 anos, ela me ofereceu uma caixa com DVDs de todos os filmes que ganharam
o Oscar do ano em que nasci até meu aniversário. Para meu orgulho, também já fiz
sucesso em um aniversário da Bethy Lagardère, que hoje vive no Rio e já foi
casada com o homem mais rico da França.
Bem,
o que se dá para alguém assim? Roupa de grife, para uma das mulheres que melhor
se vestem no planeta? Encontrei um livro sobre os pássaros do mundo. A cada página,
as ilustrações subiam em relevo e ouvia-se o som dos pássaros cantando. Ela
adorou! Para ser criativo, é preciso também ser surpreendente.
Conheci uma
mulher que preparava biscoitos e oferecia em vidros personalizados aos amigos. Uma
delicadeza. Aviso: estou cultivando abelhas. Ano que vem me safo engarrafando
potes de mel e oferecendo com um “eu mesmo produzi”. Presentes criativos, ou as
pessoas adoram ou disfarçam. Mas, se fingem que gostam, é o que realmente conta
no Natal.
Presentes
práticos são os que menos entusiasmam. Mães costumam ser vítimas dessa
categoria. Ganham coisas para a casa: pratos, panelas, eletrodomésticos. Minha mãe,
que não era boba, a certa altura da vida implorou: “Neste Natal, quero um
presente para mim”. Foi o único jeito de se livrar dos liquidificadores, dados
ano após ano por mim e meus irmãos. A gente nunca sabe exatamente o que dar a
pai e mãe, que parecem ter tudo. O segredo: pense em algo que, na imaginação,
eles nunca usariam.
Tipo
um estojo de maquiagem transado, para ela se sentir uma mocinha; shorts
colorido para ele; material de pintura, caso não pintem; ou inscreva seu velho
num curso de culinária; ou ofereça um pacote de seis meses numa academia. Se
insistir num presente prático, fuja de liquidações. Certa vez dei uma camisa a
um amigo secreto no trabalho. Não serviu. Tentei a troca, não aceitaram. Na época,
eu estava durango. Nunca mais toquei no assunto. O amigo secreto virou inimigo
público.
A não
ser que tenha certeza absoluta, fuja do presente prático. Senão, um dia
encontrará uma pilha de eletrodomésticos na área de serviço de sua mãe, tia ou
sogra, acumulados ao longo do tempo. Surpresa ainda é o melhor no Natal. E,
quem sabe, você ofereça um vale salto paraquedas a seu primo, e ele te agradeça
eternamente?
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