quinta-feira, 19 de dezembro de 2013


19 de dezembro de 2013 | N° 17649
PAULO SANT’ANA

O lacônico e o boquirroto

Simpatizo mais com as pessoas de poucas palavras do que com as de poucas ideias.

As pessoas de poucas palavras são conhecidas como lacônicas ou sucintas.

Já as pessoas de muitas palavras, as que falam muito, são conhecidas como boquirrotas. Elas sempre são indiscretas e não guardam segredos. Enquanto as pessoas de poucas ideias são conhecidas como limitadas.

Um dia desses, assisti a um encontro entre um sucinto e um boquirroto. Foi sensacional. O boquirroto fazia uma longa explanação para o lacônico e perguntava qual era a opinião dele sobre aquilo.

O lacônico respondia sempre: “Hã-hã, hã-hã”. Então, o boquirroto emendava outro extenso discurso. E a reação do lacônico era imperturbável: “Ótimo. O.k. Tudo bem”.

Notava-se que a vontade do boquirroto era esgoelar o lacônico, tentando arrancar dele mais palavras para tornar a conversa menos desigual e mais parelha.

Interessante, as pessoas não são iguais. Uns nasceram para falar bastante, outros têm a natureza mais calada, aproveitam mais com o silêncio do que com a verborragia. Já vimos, então, que os sucintos economizam palavras e os limitados economizam ideias. Enquanto os boquirrotos são perdulários em palavras, nasceram para ser verborrágicos.

E quase sempre os boquirrotos não possuem ideias, falam o que bem lhes vem à boca, não interessa se aquilo que falam tem sentido. Eles querem é falar, precisam de auditório.

Imagino como seria a cena de sexo entre um homem boquirroto e uma mulher lacônica. Na hora em que se encontrassem os orgasmos de ambos, a mulher lacônica urraria somente uma palavra: “Ai, ai, ai!”.

E simultaneamente o boquirroto deitaria e rolaria: “Sinto a vibração das minhas cordas sensoriais, inebriadas diante de tal prazer inefável, nada disso supera em prazer este momento”.

Esqueci-me de dizer que o boquirroto que escolhi para fazer sexo com a mulher lacônica era, além de boquirroto, gongórico e pernóstico. Foi um choque de gigantes. Um gigante falador e uma gigante econômica em palavras.


Um psiquiatra teria amplo campo de diagnóstico somente em ouvir o que falam durante o sexo os dois litigantes.

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