18
de dezembro de 2013 | N° 17648
MARCELO
PERRONE
Um sobrevivente do rock
Anos
atrás, fui apresentado por um amigo ao The Brian Jonestown Massacre e não dei a
atenção devida à banda que, nos últimos tempos, tenho ouvido sem parar e ainda
sem dar plena conta da robusta discografia de 12 álbuns de estúdio e sete EPs. Até
que o documentário Dig! (2004) abriu-me as portas da percepção para conhecer
melhor o BJM e seu guru, o maluco beleza Anton Newcombe.
Sujeito
musicalmente inventivo que esteve a um passo curto de fritar o cérebro por
conta dos excessos de drogas pesadas e bebidas fortes, Newcombe embebeu o BJM
em psicodelia, folk e distorção, elementos que, a cada disco, incorporam tantos
outros e levam a banda a seguir – e a apontar – caminhos diferentes e ainda não
explorados desde que os Beatles voltaram da Índia com um sitar na bagagem.
A
diretora Ondi Timoner mostra em Dig! os passos iniciais do BJM em San Francisco
e a relação de fraternal parceria e, em seguida, belicosa convivência com a
banda The Dandy Warhols. Chega-se ao fim do filme crente de que Newcombe em
breve estará morto ou amarrado em uma camisa de força.
Aclamado
pelo crítico musical britânico Garry Mulholland, em seu livro Popcorn, como o
melhor documentário de rock do século 21, Dig! destaca como esses dois grupos
trilharam juntos pelo underground e despertaram o interesse de grandes
gravadoras. Mas em um show que deveria celebrar a assinatura do contrato do
BJM, Newcombe surtou, agrediu companheiros e deixou clara sua contrariedade com
o “sistema”. Já o líder do The Dandy Warhols, Courtney Taylor, decidiu ganhar
alguma grana – “traição” que o fez, diante da câmera, ganhar o desprezo do ex-amigo.
Depois
do filme, Newcombe foi morar em Berlim, (parece que) largou as drogas, lançou
com o BJM discos bons e ótimos um atrás do outro – o mais recente é Aufheben,
de 2012, – e criou um canal de TV virtual (Dead TV) voltado para a música e as
artes visuais.
A
banda emplacou o tema de abertura do seriado Boardwalk Empire (Straight Up and
Down, do álbum Take It From the Man!, de 1996) e cumpre uma agenda de shows que
costumam ser antológicos (anda agora pela Austrália). Os fãs são poucos, mas fiéis.
Reconhecem tanto a excelência sonora do BJM quanto a espetacular e incomum
volta por cima de um sobrevivente do rock que conseguiu reescrever sua história.
(Tanto ele quanto Taylor renegam o documentário, dizendo que, entre tantas
coisas boas que registrou, a diretora optou por mostrar só o pior).
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