Jaime
Cimenti
Manual do Tapa-Furo
E daí
que te tiraram para tapa-furo, que tu foste o convidado número 28 da terceira
lista, que te chamaram para a festa na última hora e te convidaram para entrar
no jogo aos 42 minutos do segundo tempo? Qual o problema? Afinal, existes. Melhor
ser tapa-buraco do que nada. Quando te escalarem para tapa-furo, antes de
aceitar - na medida do possível, aceita - faz um charme, diz que vai ver a
agenda, falar com o pessoal em casa. Leva uns minutos, ao menos, para responder.
A
pessoa que está convidando vai ver que não és um remendo qualquer e vai gostar,
se sentir menos estranha ou culpada. De repente, mente que tinhas outro
compromisso, mas que, em consideração, vais desmarcar e aceitar o convite de último
momento. Quando chegares no local, agradece muito o convite, cumprimenta
efusivamente o anfitrião e diz para todo mundo que não podias faltar ao evento,
que és amigo dos organizadores há décadas, do tempo do colégio e da piscina do
clube.
Para
os convidados, diz que desmarcaste compromissos anteriores para estar lá, que
andaste não sei quantos quilômetros e que o dono da festa pediu muito pela tua
presença. Se achares melhor e mais chique, não faz nada disso, faz cara de
importante, de quem está dando um upgrade para o evento. Tapa-furo é milenar,
sempre existiu em festas, cerimônias, filmes, eventos e mesas, que precisam de
lugares preenchidos por tapa-buracos, coadjuvantes, figurantes e pessoas que
completam o quadro.
Os
tapa-furos devem ser discretos, cumprir seu papel com sobriedade e jamais
roubar a festa. Os tapa-buracos devem ter consciência de sua missão e entender
que, se não se comportarem bem, aí podem deixar de ser convidados para tapa-furos
e aí não serão mais nada, nem o quadragésimo oitavo da quarta lista de
convidados.
Tapa-furos
devem vestir trajes comuns, em tons de cinza, preto, marrom e outras cores que
não lhe deem colorido algum. Tapa-furos devem vir em preto-e-branco. Nada de
chamar a atenção. Tapa-furos devem ter gestos comedidos, risadas em altura
adequada, apertos de mão e abraços educados, sorrisos de tamanho correto e não
devem exagerar ao contar vantagens e aplicar mentiras. Menos tapa-furo é mais.
Os
tapa-furos devem saber que fazem parte indispensável do sucesso das festas e
que têm seus direitos e importância garantidos. Os tapa-furos poderiam até fundar
um sindicato, mas aí talvez ficasse muito na cara e possivelmente precisariam
encontrar muitos tapa-furos para pagar as contas e tapar os buracos.
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