23
de dezembro de 2013 | N° 17653
EDITORIAIS
REALIDADE
DESAFIADORA
O
retrato sem retoques do ano letivo da turma 11F do Colégio Julio de Castilhos,
publicado ontem em oito páginas de Zero Hora, explica muito sobre as causas que
colocam o ensino brasileiro no fim da fila nas avaliações internacionais.
Ao
acompanhar de perto a rotina de alunos e professores do primeiro ano do Ensino
Médio de uma das maiores e mais tradicionais escolas públicas do Estado, os
jornalistas Letícia Duarte e Félix Zucco constataram e revelaram uma realidade
deprimente que as estatísticas oficiais mascaram, os governantes fingem não ver
e a sociedade tolera. Mas a verdade é insofismável: enquanto esse problema não
for enfrentado com coragem e inteligência, o país continuará condenado à
estagnação.
São
inúmeras as mazelas do ensino público no país, algumas delas também replicadas
na rede privada: alunos desinteressados, professores estressados e faltosos,
pais ausentes, governos lenientes, programas de aprovação automática de quem
não aprende, concorrência da tecnologia e até do tráfico de drogas. A situação
parece desesperadora, mas, se todos nos envolvermos na busca de soluções
efetivas, pode se tornar apenas desafiadora.
Números
de evasão e repetência já não comovem ninguém, até mesmo porque se tornaram
inconfiáveis depois que as autoridades inventaram a progressão automática, o
ensino politécnico e outras maneiras criativas de disfarçar o fracasso escolar.
Percentuais de ausência de professores também passam quase despercebidos, pois
a maioria dos pais de alunos da rede pública exige apenas que as crianças
permaneçam na escola e recebam merenda. Mais de 70% dos pais se dizem
satisfeitos com a escola dos filhos, mas poucos acompanham de perto o
aprendizado.
A
realidade mostrada pela reportagem não deixa margem para enganações. Registra o
dia a dia de professores e alunos, suas dificuldades cotidianas para aprender e
ensinar, a impotência dos pais para interferir, a negligência dos governantes,
a falência de um sistema de ensino que sequer consegue transformar a tecnologia
de inimigo em aliado, o acobertamento de faltas e a desilusão de docentes
bem-intencionados mas incapazes de mudar o atual estado de coisas.
Tem
jeito, certamente. Sempre tem jeito. Mas é preciso que todas as pessoas
envolvidas no processo façam a sua parte, abandonando resistências e buscando
instrumentos para preparar melhor os professores, valorizar o magistério,
envolver os pais e conquistar a atenção dos alunos. A crise escancarada pela
reportagem não é apenas do Julinho – é da escola pública brasileira,
evidentemente com as reconhecidas exceções. Pois, se temos exceções, temos
também potencial para superar qualquer crise.
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