30
de dezembro de 2013 | N° 17659
LIBERATO
VIEIRA DA CUNHA
Um ano fora do comum
Já
vi filmes como Os Melhores Anos de Nossas Vidas ou O Ano em que Vivemos em
Perigo, mas raramente presenciei, em tempo real, algo tão impactante como 2013.
Foi um ano extraordinário, e ainda agora me dou conta de que o adjetivo talvez
não seja suficiente.
Tudo
começou com aquela tragédia arrasadora de Santa Maria que extinguiu em chamas
242 mentes e corações jovens e provocou imensas cicatrizes em milhares de
pessoas que os amavam. Nada retrata melhor as dimensões daquele holocausto do
que a foto de Yasmin Müller como que desfalecida sobre as cinzas do noivo, no
instantâneo pungente e magnífico de Lauro Alves.
Moços
como aqueles ganharam as ruas em junho em colossais manifestações que sacudiram
o país. Lembro que trocava e-mails com uma amiga de São Paulo, quando ela me
avisou que ia sair do ar: seu carro, preso num gigantesco congestionamento,
estava cercado por uma multidão inumerável na Avenida Paulista. “O que os
manifestantes querem?” – perguntei. “Mudar o Brasil” – respondeu ela, e nessa
resposta, desculpado o incômodo, estava dito tudo.
Foi
este também o ano em que o mais carismático dos pontífices de que há memória
conquistou o Brasil com sua incrível capacidade de comunicação. Não foi um
episódio isolado. O Papa Francisco continua a varrer as teias seculares que
encobrem a hierarquia do Vaticano. O Bispo de Roma proscreve velhos usos do
poder, mora num apartamento simples, usa sapatos gastos, carrega sua própria
mala. Há algo que se pode chamar de mais cristão? E por falar nisso, partiu outro
gigante: Nelson Mandela, o homem que derrubou o regime racista do apartheid.
Em
Pindorama, o Dia da República desta vez fez justiça ao nome. O presidente do
Supremo, Joaquim Barbosa, marcou a data mandando para a cadeia quatro dos
principais líderes da quadrilha que protagonizou o maior dos assaltos aos
cofres da nação.
Como
diria Edward Snowden, não é pouco para um ano só, fora o que ainda não foi
revelado.
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