sábado, 28 de dezembro de 2013

WALCYR CARRASCO
26/12/2013 21h10

Que será, que será?

Pessoalmente, me tornarei mais burro. Minha capacidade de adaptação ficará ainda menor

Uma certeza já tenho para o ano que entra: haverá um contínuo desfile de caras feias. Teremos horário eleitoral. Alguém já viu político bonito? Existem alguns, mas são raros. Em novelas e séries de televisão, o elenco é importante para atrair o público. Os políticos têm a vantagem do horário obrigatório, portanto não têm de se esforçar em relação à aparência. Serei obrigado a ver um por um.

Óbvio, político não tem de ser belo. O ideal é que seja honesto, não corrupto, empreendedor, cheio de projetos, bom gestor etc. Mas me pergunto: não sobra dinheiro para comprar um creminho? A própria presidente Dilma anda engordando. Em campanha, será mais difícil emagrecer, pois será obrigada a comer de tudo, para não ofender os eleitores.

 Dilma engordará ainda mais. E ficará mais impaciente durante a campanha, se for obrigada a deglutir buchada de bode, como ocorreu com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, num episódio inesquecível. Aguarde a balança, presidenta!

De maneira geral, não importa muito o que os políticos, sem me referir a nenhum, terão de engolir na campanha. Eles nos farão engolir mais coisas, depois de eleitos, e essa é uma previsão que já fica para 2015.

Pessoalmente, me tornarei mais burro. À medida que os anos passam, minha capacidade de adaptação à realidade se torna menor. Brinco chamando de burrice, porque a questão é mais profunda. Sou da geração que está com 60 anos. É quase impossível acompanhar o mundo. Já nem sei quantas reformas ortográficas ocorreram durante meu tempo de vida. Foram algumas, e eu teria me adaptado, se não houvesse exceções em todas elas. Caem acentos, mas em alguns casos permanecem. Hifens sobrevivem.

E assim por diante. Já me conformei, nunca mais escreverei de maneira tão perfeita quanto antes. Já não consigo nem guardar a data de aniversário dos amigos. Também aposto, e isso já é uma certeza, que surgirão inovações tecnológicas que não absorverei. Gente, sou da época da máquina de escrever. Não tenho saudades, o computador é mais prático. Mas tudo faz tanta coisa, que já não sei como me virar. São programas e mais programas capazes de resolver minha vida, se eu soubesse lidar com eles. Basicamente, continuo usando a máquina para escrever textos, enviar e-mails.

Há mais ou menos 30 anos, quando o computador doméstico começou a ser usado no país, eu me orgulhava de ser um precursor. Entre meus amigos, fui o primeiro a comprar um. Passava as noites decifrando programas. Cheguei até a pensar em dar um golpe financeiro pela internet, mas não achei cúmplice. (Sempre penso em golpes, mas acabo deixando para meus personagens.) Hoje surge uma novidade por minuto.

Abro meu computador, e algum programa deixou o silêncio do HD para invadir minha tela. Passo horas tentando reprimi-lo para voltar a escrever. Estou falando no celular e, de repente, entra um programa diferente, que interfere na ligação. Já me explicaram que o problema não está no aparelho, mas na forma como o coloco na orelha. Existe combinação perfeita para orelha e celular, meu Deus? Sonho com um celular que faça e receba ligações, apenas isso. Um computador que sirva para criar e enviar textos, não mais. Aparelhos simples, em que eu possa mexer sem correr o risco de danos cerebrais.

Mas o mundo caminha noutra direção – e isso não é uma aposta. É uma certeza. Conto os dias para o lançamento do robô doméstico. Vai chegar, e não falta muito. As grandes montadoras do Japão estão de olho nesse mercado. Há anos apostam no produto. Já cheguei a ver um que serve cafezinho, em Tóquio. Alguns robôs específicos já fritam hambúrgueres. Há um aspirador de pó robotizado. Pensa-se em “cuidadores”, que acompanhem e deem medicação a pessoas inválidas.

Entre minha dificuldade para acompanhar toda essa tecnologia e as surpresas que ela oferecerá, fica uma última aposta. Há alguns anos, numa conferência no Japão, conheci o trabalho de um gênio que tentava criar robôs capazes de agir em grupo e de reagir ao meio ambiente.

Mas... isso não é mais ou menos o que somos? Não se tratará, de fato, de uma nova espécie?


Isso me assusta um pouco, mas não mais que o jeitão dos políticos. São eles que decidirão como usar a revolução tecnológica em larga escala. Se você apostar no que vai acontecer, perderá. Será sempre algo pior. Penso no que virá com os saltos da tecnologia em suas mãos.

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