ELIANE
CANTANHÊDE
Presente de grego no Natal
BRASÍLIA
- Os viajantes brasileiros deixaram (deixamos) mais de US$ 20 bilhões no
exterior neste ano. No fim das contas vai dar umas cinco vezes mais do que a
compra de caças suecos para renovar a frota da FAB, a serem pagos durante décadas.
Em
vez de aquecer a economia do Brasil, estamos movimentando o comércio e gerando
empregos nos países alheios, sobretudo nos ricos. Miami passou a ser o
principal destino da brasileirada, que volta com malas gigantescas abarrotadas
de peças de grife e todo tipo de bugiganga.
Na
versão cor de rosa do governo, tudo isso é resultado do sucesso: o país está bombando,
e os brasileiros estão cheios de amor para dar e com montanhas de dinheiro para
viajar e gastar. Mas a realidade é outra e tem um nome: preço. Os preços no Brasil
estão pela hora da morte.
Numa
tarde em Miami, sentei para tomar um café e me senti em casa, mas a minha casa é
aqui. À mesa da direita, paulistas; à da esquerda, nordestinos. E havia três moças
de Minas. Todos cheios de sacolas.
Na
volta, fiquei vagando duas horas num shopping em São Paulo à procura de
lembrancinhas de Natal e tudo o que comprei foram dois lencinhos de seda, só para
não sair de mãos abanando. Ah! E gastei R$ 60 de estacionamento num único dia.
Os
produtos nacionais viraram artigo de luxo, os importados custam três vezes mais
que nos EUA. Nem as feiras e o comércio popular escapam. Imagine a aflição da
maioria de trabalhadores ao procurar brinquedos, tênis e roupas para os filhos.
Não
foi nenhuma surpresa saber que o comércio teve seu pior Natal em 11 anos. A
surpresa ficou por conta da reação desvairada do governo: em vez de se
preocupar e se ocupar com os preços internos abusivos, aumentou o IOF e
penalizou os cartões de débito em moeda estrangeira. Falta pão? Suprimam-se os
brioches.
Se o
brasileiro ficar, o bicho preço come; se correr, o bicho imposto pega. Obrigada,
presidente Dilma, pelo presente de grego no Natal.
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