28
de dezembro de 2013 | N° 17657
EDITORIAIS
A IMPUNIDADE
NOCAUTEADA
Ninguém
acreditava, nem os próprios condenados, mas o processo judicial conhecido como
mensalão resultou na prisão de personagens importantes da vida nacional, entre
os quais um ex-ministro, vários parlamentares, empresários e banqueiros.
Reconhecido como um dos maiores escândalos de corrupção da história do país, a
compra de apoio parlamentar pelo governo demorou mais de oito anos para ser
julgada pelo Supremo Tribunal Federal, mas acabou se transformando num golpe
real na impunidade: dos 38 investigados pelo caso, 25 foram condenados em
dezembro de 2012 e nove tiveram seus últimos recursos avaliados pela Corte em
novembro último. Até a metade de dezembro, 17 condenados já estavam na cadeia e
um, foragido no Exterior.
O
julgamento ainda suscita controvérsias, especialmente por parte de dirigentes e
militantes do Partido dos Trabalhadores, que sofreu um abalo na sua reputação
em decorrência do envolvimento de figuras proeminentes da agremiação no
pagamento de propinas a políticos. Mas a maioria da população brasileira apoiou
integralmente a decisão colegiada da Suprema Corte, composta por 11 ministros,
oito deles indicados por governantes petistas.
Apesar
do inconformismo dos militantes do PT, os réus tiveram amplo direito de defesa
e o julgamento não poderia ter sido mais transparente, pois todas as sessões da
Corte tiveram cobertura permanente da imprensa. Durante várias semanas, o país
acompanhou atento os debates entre os magistrados, as acusações do procurador-geral
da República e as defesas dos advogados.
Nesse
período, entraram para o vocabulário nacional termos jurídicos como a Teoria do
Domínio do Fato – pela qual é considerado autor de um crime a pessoa que, mesmo
não tendo participado diretamente do ato infracional, decidiu, ordenou ou
facilitou a sua efetivação – e embargos infringentes, que são recursos cabíveis
contra decisões não unânimes de segunda instância, desfavoráveis aos réus. O
julgamento também transformou em celebridade o relator do processo e atual
presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, que se mostrou inflexível nas
condenações.
Habituada
a ver delinquentes poderosos escaparem impunes, parcela expressiva da população
brasileira celebrou no último dia 15 de novembro, quando o Supremo decretou a
prisão imediata de 12 réus condenados no processo. É exagero dizer que o
desfecho da Ação Penal 470 assinala o fim da impunidade no país, até mesmo
porque há processos semelhantes inconclusos, entre os quais o chamado mensalão
tucano, que envolve um ex-governador mineiro. Mas não há dúvida de que foi o
fato mais marcante de 2013 e tende a se transformar numa referência de
moralidade para a política brasileira.
Ainda
é cedo para se saber se a condenação dos réus do mensalão realmente inaugurará
um novo tempo e contribuirá efetivamente para reduzir os casos de corrupção na
administração pública do país. Porém, a partir da ampla exposição do episódio,
já se percebe um significativo resgate da confiança dos brasileiros nas
instituições democráticas e no poder dos cidadãos para exigir honestidade e
integridade de seus representantes.
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