29
de dezembro de 2013 | N° 17658
PAULO
SANT’ANA | MOISÉS MENDES (Interino)
O valor de um
dedo-duro
Saiu
na Zero Hora, por informação de um juiz federal, que é preciso estar preparado
para uma decepção. É possível que alguns dos acusados pela fraude do Detran não
peguem cadeia. Eu, você, nós todos os mal-acostumados com o desfecho do
mensalão ficamos apreensivos com o alerta. Este é um caso exemplar para cadeia.
É
certo que julgamentos não são condenações sumárias. Mas ficou claro o que o
juiz quis dizer: gente graúda, apontada pela Polícia Federal e pelo Ministério
Público como integrante da quadrilha que movimentou mais de R$ 40 milhões, pode
se livrar por falta de provas ou por prescrição.
O
caso Detran pode ser emblemático da desconexão entre expectativas e prováveis
reparações pela Justiça. O escândalo teve repercussão em 2007, depois que a PF
grampeou meio mundo. Algumas das conversas mais patéticas envolvem professores
da Universidade Federal de Santa Maria estressados porque não conseguem juntar
o dinheiro que a quadrilha pedia. Mas como provar que o Saravá era mesmo o
chefe barbudo e que o Campeão era aquele empreiteiro?
Para
quem, afinal, os professores atormentados de Santa Maria juntavam tanto
dinheiro? Por que esse caso está tramitando há mais de cinco anos na Justiça
Federal?
O
crime do leite com formol, denunciado em maio, já foi julgado. Outros episódios
escabrosos, como esse do Detran, o do desvio da merenda escolar e o das
licenças ambientais, não podem andar mais depressa?
Enfim,
você pode discordar dos exageros de Joaquim Barbosa, desde que todos nós
passamos a ser juristas, ou concordar que era preciso enquadrar a turma do PT.
Mas não há como discordar de que a Justiça precisa fazer muito mais para que se
tenha pelo menos a sensação de menos impunidade.
Nem
tudo vai parar no Supremo, se sabe. Mas a expectativa generalizada é esta: os
juízes devem se inspirar na atuação incisiva do STF no julgamento dos
mensaleiros, ou a frustração será grande.
No
início do mês, o chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, soletrou
esta frase, numa entrevista, sem nomear ninguém:
– Na
minha opinião, os símbolos da corrupção no Brasil, os emblemáticos, continuam
soltos.
Quais,
para você, são os emblemáticos? O senador Pedro Simon acha que os piores mesmo
são os corruptores, os que não mostram o rosto, não têm marca pessoal como um
Coringa, um João Bafo de Onça ou um Maluf.
O que
precisamos mesmo é de mais Robertos Jeffersons, de quadrilheiros insatisfeitos
com o seu pro labore na máfia. Como os executivos da Siemens, que certamente
denunciaram o cartel acomodado nos governos de São Paulo, para fraudar
licitações do metrô, porque estavam sendo logrados pelos parceiros.
Seria
bom se aparecessem os logrados pelos esquemas do Detran, da merenda escolar,
das licenças ambientais fajutas, da licitação dos pardais. Ou já apareceram? Os
professores constrangidos como tarefeiros da máfia do Detran não podem indicar
os chefes da quadrilha, como fez Jefferson?
Jefferson
é o amoral perfeito. Dedurou os comparsas e posou de mocinho, foi condenado e
requereu o direito de cumprir a pena em casa. Quer comer salmão e tomar água de
coco sem incomodações.
Eu
me ofereço para arrecadar fundos e garantir salmão e caviar aos quadrilheiros
que ficaram pobres, se eles fizerem como Jefferson e dedurarem os comparsas das
fraudes gaúchas à espera de julgamento.
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