Jaime
Cimenti
Crônica natalina
O
que escrever em uma crônica natalina? Que algumas pessoas vestidas de Papai
Noel trocaram socos e pontapés em Nova Iorque? Que as pessoas andam apressadas,
ensimesmadas, egoístas, tensas, estressadas, engarrafadas, por vezes até pedindo
para não receber e dar presentes? Que as pessoas vão comprar presentes baratos
na última hora?
Que
as cartas de Natal e os cartões impressos estão sendo trocados por mensagens
eletrônicas e telefônicas? Que está todo mundo ou quase todo mundo louco para
que passe logo o Natal de olho na festa de virada de ano, mais divertida e alto-astral?
Bom, aí seria uma crônica exagerada, parcial, amarga, amargurada, e Jesus
Cristo, onde estiver, não ia gostar, ele que se esforçou tanto para plantar
amor nos corações das pessoas e nesse planeta.
Acho
que os amigos leitores também iriam parar de ler na metade. E com toda razão. Pois
é. É aniversário de Jesus, vamos pegar leve. Melhor andar pelas ruas, pelas
casas, praças, bares, restaurantes, templos e capturar e proporcionar cenas de
afeto e solidariedade, beijos e abraços, palavras cálidas, silêncios delicados
e olhares doces.
Melhor
não pensar demais nos queridos que se foram, em mágoas, ossos, pessoas malvadas
e ressentimentos antigos, nos saudosos white christmas de antigamente, com neve
falsa de algodão branco, nozes, castanhas, canções e muita coisa vinda do
estrangeiro, pinheiros de verdade, presépio vivo ou de gesso mesmo, canções
natalinas nas Lojas Americanas e Simone cantando músicas de Natal.
Melhor
curtir os sorrisos soltos, os brilhos dos olhos e as criancices das crianças
que ainda são crianças, ao menos por um tempo. Melhor nessa época não se
contaminar pelo excesso de lembranças e pela overdose de sensações.
Melhor
curtir o agora e a vida que pulsa por aí. Bom pensar que no fim do ano e no fim
dos tempos, se houver fim dos tempos, o amor será o campeão. Bom pensar que
Jesus, São Francisco, Gandhi, Betinho, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce,
Mandela e tantos outros existiram. Eles
colocaram na mesa da humanidade as melhores contribuições, deram os melhores
exemplos.
O
espírito de Natal vai, volta, muda e permanece, como o vento, o sol, a lua, as
estrelas, as águas e o tempo. Passamos rápido por aqui. Durante a curta
passagem e depois, melhor tentar, ao menos, deixar nosso melhor para os que
permaneceram e para os muitos outros que nascerão, formando a corrente da vida.
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