15
de dezembro de 2013 | N° 17645
FABRÍCIO
CARPINEJAR
A parte branca do
biquíni
O
verão é perturbador.
A
nudez da mulher muda com a praia e a piscina.
Ela
passa a ter uma calcinha na pele. Quando transar, terei duas calcinhas para
tirar.
Se
uma já era boa, duas são insuportavelmente excitantes. É a tara masculina
saciada em dobro.
Você
vai baixar a primeira de renda com as mãos e outra com os olhos.
Preste
atenção, aproveite a temporada. Só nos meses quentes para contar com
strip-tease duplo de sua esposa.
Irresistível
a marca de biquíni que ela deixa para mim. Sua pele branca somente reservada
para minha adoração.
É o
mapa do pecado, é a geografia do desejo, é o país da lascívia.
Fortalecendo
a morenidade de minha mulher, o sol me ajuda, é meu cúmplice de alcova. O sal e
o mar colaboram colorindo o corpo e me separando a tez imaculada.
Abençoo
o contraste. A parte branca do biquíni significa um presente marítimo, uma
concha inteiriça e de som infinito que erguemos do rebuliço das águas.
Eu
entendo e respeito quando ela fica horas torrando na cadeira. De bruços, de
frente, de lado, seguindo os raios com a lealdade dos reflexos dos óculos
escuros. Não reclamo do seu isolamento, não digo que é perda de tempo, não vejo
como imolação, não recrimino com piadas sexistas, não zombo da dedicação.
Pelo
contrário, agradeço sua generosidade comigo. Levo cerveja gelada, caipirinha e
protetor reserva para prolongar seu tempo de exposição. Busco toda coisa que
deseje. Ela tem direito a sonhos de grávida, a excentricidades de grávida. Não
considero nenhuma regalia absurda perante o prazer que encontrarei de noite.
Eu
me torno seu cooler, seu isopor, seu guia do deserto, seu pajem. Altero a
direção dos ventos, sopro tempestades para longe, abro frestas nas nuvens com o
poder do pensamento. Combato o que pode atrapalhar seu dia iluminado e claro.
Conheço
o valor de minha recompensa, prevejo a extensão da dádiva.
Não
é o bronzeado que me alucina, é onde ela não se bronzeou. É onde ela se guardou
para mim.
A
parte branca do biquíni vale qualquer esforço, qualquer sacrifício.
A
parte branca do biquíni é uma cobiçada ilha após a natação dos braços.
Sem
querer esnobar, eu entro onde nem a luz tem permissão.
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