14
de dezembro de 2013 | N° 17644
CLÁUDIA
LAITANO
Perto da sua casa
Você
pode estar convencido de que a maconha é a antessala do inferno, ou achar que
ela abre as portas do paraíso da percepção, mas uma coisa precisa admitir: o
Uruguai está enfrentando o problema do tráfico de frente, com cojones.
É mais
ou menos o contrário da estratégia adotada pelo Brasil em relação à droga mais
liberada do mundo: o álcool. São tantas as mortes causadas pelo uso irresponsável
da bebida, no trânsito e dentro de casa, que o assunto parece inabarcável de
uma tacada só, mas talvez fosse útil analisar como e quando o problema começa: na
adolescência, desobedecendo à lei e com a conivência dos adultos.
Em
Porto Alegre, ver amigos bebendo até passar mal tornou-se rotina nas festas de
adolescentes. Pergunte a qualquer menino ou menina com mais de 12 ou 13 anos e
ele vai explicar como se faz. Nas casas de festa, é proibido vender álcool, mas
isso não chega a ser um problema. Basta caminhar ou ir de táxi até o posto de
gasolina mais próximo.
Lá,
paga-se a alguém com mais de 18 anos para comprar as bebidas. No posto mesmo,
eles bebem até o dinheiro acabar. Misturam álcool com energético,
potencializando o efeito, e quando voltam para reencontrar os amigos não
conseguem mais aproveitar a festa. Passam mal, vomitam, alguns vão parar na
enfermaria, outros no Pronto Socorro. A maioria acaba convencida de que o mundo
dos adultos é assim mesmo: uma festa que nunca atende às expectativas e que
ninguém consegue enfrentar de cara limpa.
É preciso
analisar o fenômeno não do ponto de vista moralista, obviamente. Jovens sempre
vão querer experimentar novas sensações e testar limites – os seus e os dos
pais. Cabe aos adultos mostrar que existem, sim, limites e ensinar que, junto
com a liberdade, vem a responsabilidade, não apenas consigo mesmo e a própria
segurança, mas com relação aos outros também.
O
guri que aprende o prazer da transgressão, mas não reconhece a legitimidade dos
acordos sociais estabelecidos para proteger principalmente os mais frágeis – entre
os quais se incluem aqueles que ainda não têm maturidade suficiente para lidar
com a bebida – jamais vai conseguir entender, por exemplo, que beber e dirigir
nunca é uma decisão que afeta uma única pessoa. E que saber a hora de parar de
beber pode ser o detalhe que separa uma noitada de diversão de uma madrugada trágica.
O
posto que vende bebidas sabendo que serão consumidas por menores, o mediador na
transação, os donos dos locais que fecham os olhos para o circuito, os
promotores de festas com bebida liberada, o fiscal que não fiscaliza, os pais
que recebem os filhos bêbados em casa e acham normal: todos estão compactuando
com a cultura da eterna terceirização da responsabilidade. E em um mundo de
adultos omissos, ou que não deixam claras as regras que querem ver respeitadas,
os adolescentes crescem cada vez mais perdidos, individualistas e angustiados.
Lembre-se
disso quando topar com um deles, com seus tênis de marca ou suas minissaias de
butique, passando mal na calçada de uma rua bem perto de você.
Nenhum comentário:
Postar um comentário