21
de dezembro de 2013 | N° 17651
CLÁUDIA
LAITANO
Qual é a sua
causa?
Em
2013, as causas causaram. Como o vinil, que ressuscitou no século 21 investido
de novo valor simbólico, as causas reencontraram seu espaço na arena pública
devidamente adaptadas às peculiaridades da nossa época: globalização,
customização, compartilhamento.
Não
por acaso, uma das marcas das manifestações de junho foi a variedade das
demandas expressas em slogans e cartazes: saúde, educação, transporte, mas
também o combate à homofobia, o preço do tomate, o estado laico, a legalização
da maconha.
O
que, para alguns, era sintoma de falta de foco mostrou ser apenas a nova
roupagem de uma espécie de idealismo difuso que sempre existiu. O sonho das
grandes revoluções pode ter se espatifado, mas o que surgiu no lugar não foi
exatamente o vazio histórico-existencial previsto pelos analistas mais
catastróficos, mas a união em torno de causas localizadas.
Em
2013, a ativista gaúcha Ana Paula Maciel nos lembrou que, sim, ainda existe
gente disposta a arriscar a própria segurança para defender aquilo em que
acredita, assim como os jovens integrantes do Movimento Passe Livre mostraram
ao Brasil que mesmo uma causa aparentemente utópica pode ganhar a dimensão de
debate público se a minoria for barulhenta e apaixonada o suficiente.
Até
mesmo o universo corporativo vem percebendo que associar um produto ou uma
marca a uma visão de mundo mais ampla tornou-se uma das estratégias mais
eficientes para atrair e fidelizar clientes – o que não deixa de ser uma
evolução adaptativa do capitalismo que o pessoal nas minas de carvão da
Inglaterra do século 19 dificilmente teria conseguido prever.
Cada
vez é mais disseminada entre empresários de sucesso a percepção de que o lucro
a qualquer custo pode garantir alguns bons anos de fartura, mas quem quiser
permanecer no baile vai ter que aprender a demonstrar modos no salão, pensando
no mundo em volta e não apenas no próprio bolso. (Pena que essa tendência ainda
esteja longe dos cantões menos civilizados do planeta, onde trabalhadores podem
valer hoje ainda menos do que um operário inglês do século 19.)
Podemos
ser cínicos em relação às causas pulverizadas, achar que são sintomas do
ativismo de sofá ou do narcisismo contemporâneo. Prefiro acreditar que por trás
dessa revalorização das causas coletivas existe, em certa medida, a busca por
uma espécie de transcendência. Porque tudo o que nos mobiliza e apaixona, para
além dos nossos próprios interesses, nos torna maiores e menos transitórios.
Por
um 2014 em que cada um de nós encontre (ou reeencontre) uma causa pela qual
vale a pena se apaixonar.
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