28
de dezembro de 2013 | N° 17657
NILSON
SOUZA
A virada dos
céticos
Adivinhos
de todos os signos e de todos os credos já fazem aquecimento para a virada do
ano. Sou cético de nascença, mas também me arrisco a fazer uma previsão: eles
vão errar quase tudo. Claro que, com tantos chutes na Lua, alguém sempre pode
tirar a Mega Sena da adivinhação e fazer o seu nome em cima disso. E tem
aquelas que são pule de 10: um ator de novela vai morrer, um político ilustre
não vai se eleger, um cantor de rock vai se envolver com drogas, um jogador de
futebol ficará fora da Copa por lesão... Isso até eu sou capaz de prever.
Quero
ver é o cara dizer que o Papa vai renunciar e que um argentino assumirá o seu
lugar. Quero ver o sujeito jogar os búzios e alertar para as manifestações de
rua que explodiram em junho pelas ruas do Brasil. Ou um desses estudiosos das
estrelas avisar que no dia 15 de fevereiro um meteoro de 10 toneladas cruzará
os céus da Rússia, quebrará vidraças e provocará ferimentos em cerca de mil
pessoas. Como se vê, nem mesmo as previsões de cunho científico são precisas –
que o diga o Cléo Kuhn, porta-voz diário da inconstância das nuvens.
Não
faltará alguém para alegar que acertou a morte do Mandela (que tinha 95 anos)
ou do Hugo Chávez (já doente). E a quebra do Eike Batista? E as denúncias do Snowden
sobre a espionagem americana? Se olharmos para as retrospectivas do ano, que
estão sendo apresentadas pelos veículos de comunicação, dificilmente
perceberemos algum desses oráculos.
Os
melhores (e talvez os únicos) visionários são aqueles que colocam o futuro na
ponta da ferramenta. Se não podemos prever o futuro, podemos construí-lo. Mas
isso, com todo respeito aos defensores das ciências esotéricas, se faz muito
mais com trabalho do que com bola de cristal. Não estou condenando quem faz
previsões ou quem acredita nelas. É humano acreditar, como é humano rezar para
que aconteça aquilo que a gente deseja. Só condeno quem explora a boa-fé dos
crentes e utiliza a enganação em benefício próprio.
Também
reconheço que tentar adivinhar o amanhã não é só uma brincadeira. Apostadores,
políticos, economistas, investidores e cientistas, entre outros, dedicam-se a
exercícios de futurologia com a maior seriedade, muitos deles arriscando
fortunas e carreiras. Normalmente se saem melhor aqueles que dão uma forcinha
para o futuro, preparando-se para sua chegada.
Que
2014 seja um ano maravilhoso para todos – mas, por favor, não esqueçam de viver
cada dia como se não houvesse calendário. Quem não luta pelo futuro que quer
acaba tendo que aceitar o que vier.
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