21
de dezembro de 2013 | N° 17651
NÍLSON
SOUZA
Historinha (real) de
Natal
Por
obra do Santo Acaso, tenho mais uma história de Natal para contar. Como já
mencionei neste espaço em outra ocasião, sou vizinho do Papai Noel – um
simpático comerciante de automóveis que incorpora o Bom Velhinho há mais de 40
anos, com sua barba natural e seu espírito gentil, para trabalhar num
movimentado shopping da Capital. Pois eu estava saindo para a minha caminhada
matinal, dia desses, quando ouvi a buzina de um carro. No volante, o próprio
Papai Noel, em carne, osso, fantasia vermelha e tudo o mais.
–
Quer dar uma volta comigo? – perguntou. – Se não for até a Lapônia, vou, pois
tenho que estar de volta antes do meio-dia – respondi.
Era
para um lugar ainda mais especial: o Hospital Psiquiátrico São Pedro. A missão
do papai e vovô Laércio, este é o nome do homem, era distribuir presentes e
guloseimas aos internos, cortesia de uma senhora que faz trabalho voluntário na
instituição. Fomos, Papai Noel dirigindo e eu na condição de duende
improvisado.
Primeira
surpresa da inesperada aventura: o trânsito se torna pacífico para Papai Noel.
Carros dão passagem, todas as buzinadas são de saudação e os ocupantes dos
outros veículos não resistem em brincar quando encostam ao lado, nos sinais.
– Ô,
Papai Noel, deixou as renas em casa?
Até
na portaria de entrada do HPSP fomos tratados com deferência. Surpresos e
encantados com o motorista, os vigilantes abriram o portão sem pedir qualquer
identidade e disseram quase em uníssono:
–
Não esquece do nosso presente, Papai Noel! Quando contei essa passagem para um
colega de jornal, ele comentou bem-humorado:
–
Entrar é fácil, queria ver era ele alegando na saída que é o Papai Noel.
Mas
entramos e saímos sem problemas. Lá dentro, Laércio proporcionou momentos de
alegria e encantamento para pacientes e funcionários, tocando o sino,
entregando os presentes, tirando fotos e distribuindo abraços. Na condição de
ajudante, tive que superar a emoção para fazer a minha parte.
Perdi
o exercício da manhã, mas ganhei o dia. Voltei gratificado por ter contribuído,
embora modestamente, com aquela ação tão simples e tão grandiosa. Meu amigo não
entregou apenas balas e biscoitos para aquelas pessoas que vivem no mundo do
alheamento, muitas delas abandonadas por parentes e amigos. Ainda que por breves momentos, devolveu-lhes a
infância.
E há
quem diga que Papai Noel não existe.
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