sábado, 14 de dezembro de 2013


14 de dezembro de 2013 | N° 17644
NÍLSON SOUZA

Teorias conspiratórias

Primeiro foi o vídeo da Fifa. Alguém levantou a suspeita de que o secretário-geral da entidade, aquele simpático que sugeriu um chute no traseiro do Brasil, pegava a bolinha sorteada, baixava as mãos e trocava os papeizinhos antes de anunciar os confrontos. Aparentemente, ninguém foi beneficiado ou prejudicado pelas supostas trocas, mas as imagens eram boas demais para que a teoria da conspiração não prosperasse.

Então, milhares de pessoas acreditaram – e ainda acreditam – que a Fifa fraudou o sorteio da Copa, sabe-se lá com que propósito. Sei que vou ser chamado de ingênuo, mas penso que uma entidade com o histórico de arbítrio que tem a Fifa usaria um sistema bem mais sofisticado do que a troca manual de papéis, sob as vistas dos apresentadores e dos ex-atletas que participavam do sorteio, e de dezenas de pessoas que trabalham nos bastidores de um evento como aquele.

Depois foi a foto do Obama na homenagem a Nelson Mandela. Flagrado num momento de descontração com a primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning Schmidt, e com o primeiro-ministro britânico, James Cameron, o presidente norte-americano caiu na rede e nas mídias sociais (e também na imprensa tradicional, que repercute tudo o que faz barulho) como suspeito de leviandade.

Para piorar, as fotos mostram, ao lado dos sorridentes governantes, uma Michelle Obama sisuda e, aparentemente, contrariada com a situação. A realidade, porém, atestada pelo fotógrafo colombiano Roberto Schmidt, autor das imagens, é que as autoridades apenas se comportaram de acordo com o ambiente de celebração do evento sul-africano, que estava mais para festa do que para velório. Mas quem quer a realidade quando as versões e as suposições são muito mais atraentes do que os fatos?

Segundo os especialistas no assunto, pessoas que endossam teorias conspiratórias normalmente veem as autoridades como fundamentalmente enganadoras. Os conspiradores desconfiam sempre da história oficial e têm especial preferência por detalhes que podem dar outros rumos às narrativas.

Quando as imagens ajudam, então, não há o que os convença de que se trata de alucinação. A expressão de Michelle Obama nas fotos referidas parece não deixar dúvida de que ela estava indignada – embora não tenha se manifestado a respeito do assunto e ainda não tenham inventado um smartphone capaz de fotografar pensamentos.


Quando inventarem, não faltará quem diga que as fotos foram manipuladas. É da nossa natureza.

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