29
de dezembro de 2013 | N° 17658
O
CÓDIGO DAVID | DAVID COIMBRA
TODA NUDEZ SERÁ
REDIMIDA
Houve
um toplessaço no Rio, semana passada. As mulheres desabotoaram as blusas e
ganharam as ruas literalmente de peito aberto, gritando que elas também têm o
direito de sair por aí sem camisa.
Concordo.
Sou
a favor de mulheres de torso nu. Se elas quiserem andar com-ple-ta-men-te nuas,
também não veria problema algum, desde que se resguardassem de resfriados. O
vento encanado, por exemplo, é um perigo, quem já teve avó sabe. Eu mesmo andaria
pelado, se não me ressentisse da falta de bolsos, bolso é coisa muito útil.
O
que é que tem em alguém andar nu? Na praia, para onde você vai agora nas
férias, na praia as mulheres tapam o cóccix, e quase nada mais. Se aquele
cóccix está tapado, ninguém se escandaliza. Mas a mesma mulher, quando na
cidade, pode expor o cóccix livremente, uma vez que cubra as nádegas. Qual é o
critério? Só pode um de cada vez?
Aqueles
caras que publicam fotos deles mesmos sem camisa nas redes sociais. É ridículo,
é patético, mas ninguém reclama. Agora vá uma menina fazer o mesmo. O Facebook
é capaz de cancelar a conta dela. O Facebook é muito moralista.
Aí
está: a moral. A moral é relativa. A Fernanda Lima, que apresenta exatamente um
programa sobre sexo na TV, pois a Fernanda Lima apareceu gloriosa na
transmissão do sorteio dos grupos da Copa do Mundo. Estava dentro de um vestido
justo como o caminho do bem, com um decote profundo como a filosofia de Kant,
estava sinuosa e dourada como a serpente que se enrolava na macieira do
Paraíso. Linda, linda, Fernandinha.
Ocorre
que, no distante Irã, o decote da Fernanda Lima provocou tal excitação que o
governo o censurou. Gravou o evento e o apresentou com o colo da Fernanda Lima
devida e pudicamente coberto.
Aquele
era um colo perigoso. No Irã, as mulheres estão lutando para sair à rua sem ter
que cobrir os cabelos. Imagina se vissem como se vestem as ocidentais. Imagina
se soubessem que, por aqui, a luta das mulheres é para sair à rua sem ter que
cobrir os seios.
O
vale do entresseios da Fernanda Lima abalou o governo do Irã e fez estremecer
os aiatolás. Era um vale do sacrilégio. Um vale do pecado.
Sim,
senhor, um pedaço de corpo de mulher, se bem usado, pode acender uma revolução.
10
livros para o verão
Leitores
pedem indicações de livros para as férias.
Certo.
Vou
listar 10 infalíveis. E, quando digo infalíveis, quero dizer infalíveis. Se
você ler qualquer um desses livros, terá uma experiência elevada no verão que
chega com suas mulheres de cóccix cobertos e nádegas expostas e, quiçá, seios
expostos também.
Não
cultivo preconceitos ideológicos. Admiro a civilização norte-americana e seus
autores vigorosos. Portanto, vou sugerir nove livros de escritores do Grande
Irmão do Norte e um do México. Faço tal deferência ao México não por acaso,
senão porque seu ex-presidente, o bigodudo Porfírio Diaz, um dia suspirou:
–
Pobre México: tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos.
Quer
dizer: minha indicação é um desagravo ao México tão oprimido. Ao mesmo tempo,
quando cito essa frase célebre, faço também uma concessão aos esquerdistas que
odeiam os ianques. Assim, com todos contentes, apresento minha lista:
1.
Ragtime
de
E. L. Doctorow.
Esse
livro... sinta o ritmo desse livro. Você vai dançar com Doctorow. Você vai dançar
o ragtime.
2.
As Vinhas da Ira
de
John Steinbeck.
Um
dos mais belos e comoventes finais de romance da história. Um livro poderoso,
convertido em um lindo filme estrelado pelo grande Henry Fonda.
3. O
Longo Adeus
de
Raymond Chandler.
Um
clássico do romance noir, com Phillip Marlowe, o maior dos detetives cínicos de
todos os tempos. Eu queria ser Phillip Marlowe.
4.
Um Bonde Chamado Desejo
de
Tennessee Williams.
É
uma peça de teatro. Um texto seco e forte. Marlon Brando interpretou o
protagonista da peça no cinema, e fez história, como sempre fazia Marlon
Brando.
5. Moby Dick
de Herman Melville.
Essa
é das mais rutilantes pedras preciosas da literatura ocidental. Também virou
filme, com Gregory Peck.
6.
Factótum
de
Charles Bukowski.
Dos
mais divertidos livros do Velho Buk. Quando o li, parecia estar lendo sobre um
trecho da minha vida.
7.
Bonequinha de Luxo
de
Truman Capote.
Aprendi
muito com este pequeno romance. Capote é autor da frase que, para mim, resume o
ato de escrever bem: “Eu quero construir uma frase maleável e resistente como
uma rede de pescar”.
8. Espere a Primavera, Bandini
de John Fante.
Fante
era o ídolo de Bukowski. Certa feita, bêbado, como soía acontecer, o Velho Buk
gritava: “Eu sou Arturo Bandini! Eu sou Arturo Bandini!”
Eu
também sou. Sou Phillip Marlowe e Arturo Bandini.
9.
Fique Quieta, Por Favor
de
Raymond Carver.
Uma
vez, o cônsul do Japão me disse que eu escrevia parecido com Carver. Fiquei
todo bobo, porque todos queriam ser Raymond Carver. Ou Arturo Bandini. Ou
Phillip Marlowe.
10.
Festa no Covil
de
Juan Pablo Villalobos.
Eis
o mexicano da turma. Festa no Covil é uma novela pequena, de 80 páginas, que
você lê de uma única vez. É uma história bela e cruel que vai fazer com que
você esqueça até os melhores cóccix da orla.
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