22
de dezembro de 2013 | N° 17652
O
CÓDIGO DAVID | DAVID COIMBRA
SOBRE AS MULHERES
Estou
escrevendo um livro para o meu filho. Não sobre ele; para ele. Coisas que um
pai deve dizer ao filho. Porque, bem, vá que eu não viva o suficiente para
dizer-lhe tudo o que gostaria. Não pretendo passar para outro plano da
existência agora, mas tenho visto os olhos de fogo do Ceifador amiúde, nunca se
sabe.
Um
dos capítulos do livro será “Sobre as mulheres”. Mas não vá pensar, meu filho,
que arrosto ser um conhecedor da alma feminina, essas coisas de Chico Buarque.
Nada disso. Mas sei o que um homem pode sentir quando se relaciona com as
mulheres, isso sei bem, porque as mulheres sempre foram o núcleo da minha vida,
o perfume dos meus dias e quase todas as aflições da minha alma.
Bem.
O que posso dizer de mais importante sobre as mulheres é que elas são
diferentes de nós. A maioria dos homens intui essa verdade e se assusta com
ela. Pegue um sujeito que, ao avistar uma mulher desejável na rua, agride-a
verbalmente chamando-a de gostosa ou qualquer outro adjetivo do gênero, e às
vezes agride-a até fisicamente, tocando-a.
Esse
sujeito, ao sentir desejo por aquela mulher e ter a compreensão instantânea que
nunca a possuirá, esse sujeito na verdade TEME aquela mulher. Ele sente medo do
que o seu próprio desejo pode fazer com ele. Ele sente medo do poder que aquela
mulher exerceu sobre ele. Ele sente medo daquele ser humano que é diferente
dele.
Você
não deve temer essa diferença, meu filho. Deve apreciá-la, porque essa é uma
das delícias da existência, MAS... Mas é preciso tomar cuidado com certo tipo
de mulheres. A mulher que conhece o seu poder e que sabe usá-lo, se essa mulher
for ungida pelo pai e for autocentrada em demasia, essa mulher é perigosa como
uma fera selvagem. Você até pode desfrutar dela, meu filho, mas o faça com o
peito de aço e a mente alerta. Mulheres assim tendem a se transformar em
devoradoras de homens.
O
certo é que existem mulheres más. Logo mais vou discorrer sobre algumas delas.
Ilse Koch, a Cadela de Buchenwald; Elizabeth Báthory, a Condessa Sanguinária;
Teodora, a Imperatriz de Bizâncio; Dalila, a terrível Dalila.
Sim,
meu filho, existem mulheres más. Claro, os homens também podem ser maus,
mesquinhos e cruéis. A diferença é que as mulheres são calculistas. Essa
história de que as mulheres amam, de que elas são puro sentimento, não acredite
nessa balela. É marketing das mulheres. Na verdade, elas são cerebrais,
sobretudo com o que tem a ver com seus próprios sentimentos. Uma mulher toma
decisões acerca do que sente, um homem não consegue fazer isso. Ela tem um autocontrole
que você jamais terá.
Elas
são diferentes.
Mas
as mulheres, da mesma forma, são capazes de uma entrega, de um desprendimento,
de uma generosidade, de um amor tão intenso que nós homens nunca
compreenderemos nem sequer de onde vem. Nós homens somos covardes. Nós fugimos
da dor. As mulheres, algumas mulheres, o limiar de sofrimento delas está muito
além do nosso alcance.
Vou
lhe dar um exemplo: a sua mãe, a Marcinha. Neste ano em que, como contei lá em
cima, vi o Ceifador de perto ao descobrir que tinha um câncer, em que tantas
coisas estranhas me aconteceram, neste ano pontilhado de infortúnios, que foi o
mais difícil da minha vida, neste ano, admito, só vi dezembro chegar graças a
sua mãe.
Eu
não merecia, Deus sabe que não, mas ela se manteve firme ao meu lado e leve e
sorridente e amorosa. Meus amigos dizem que ela é uma rocha. E é. Uma rocha. As
mulheres têm essa qualidade. As mulheres têm essa solidez. Sorte dos homens que
estão perto delas. Sorte nossa, pequenos homens. Tenha isso em mente, meu
filho: só as mulheres podem ser rochas.
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