03
de dezembro de 2013 | N° 17633
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Saudade a dois
A
saudade tem prazo de validade.
Não
pode permanecer muito tempo guardada. Não pode permanecer muito tempo não sendo
correspondida.
Depois
de aberta e fora do convívio, assim como o leite, a saudade azeda. E não há memória
refrigerada para conservá-la.
Quando
passa da hora, aquela falta ansiosa e comovente é capaz de se tornar ironia e
sarcasmo.
O
suspiro se transforma em ofensa – nos enxergaremos tolos e burros por confiar
cegamente em alguém e esperar à toa. Reclamaremos nossa idiotice por termos
feito uma vigília em vão, por termos esquecido de viver.
Já não
queremos que o outro volte, já desejamos que ele nunca mais apareça em nossa
frente. Violentaremos as lembranças, fecharemos a reza.
A
ternura de antes será trocada pela raiva de não ser atendido. Mudaremos a
personalidade de nossa conversa, de doce para ácida. Pois o segredo (a saudade é
um segredo!) que nos alimentou durante meses não fora respeitado.
Infelizmente,
a saudade apodrece.
Quando
deixamos de pedir a presença para cobrar a ausência. É sutil o movimento. Toda
a atenção dedicada ao longo de um período começa a ser vista como desperdício. Não
aconteceu retorno das juras, nem o estorno das expectativas.
Você
mandou centenas de mensagens, renunciou saídas com amigos e bares, teve uma
vida discreta e fiel, só para honrar uma despedida, e percebeu que, no fim,
sempre esteve sozinho na saudade.
Saudade
é como o amor. Perece quando não é a dois.
Aliás,
quando a saudade não é a dois, deixa de ser saudade para se descobrir solidão.
A
saudade é o que guardamos do amor para o futuro. É o que deixamos para amar no
futuro.
Nada
dói tanto quanto um amor que não vingou após os cuidados do plantio.
Nada
dói tanto quanto a saudade que envelhece, uma saudade que definhou pela
indiferença, que não foi valorizada pela nossa companhia, que não desembocou em
festa.
Nada
dói tanto quanto promessas feitas gerando ressentimento.
A
saudade não é eterna. Acaba quando percebemos que o amor era da boca para fora,
que a urgência era interesse, que a necessidade era falsa.
A
saudade é uma esperança de amor. Precisa ser consumida rapidamente, não mais
que três meses. Senão, nos consome e nos estraga.
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