03
de dezembro de 2013 | N° 17633
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
Uma velha história
Estava
lendo com meu filho uma edição adaptada da Ilíada, o clássico grego que tem em
seu centro a famosa Guerra de Troia. Não faltam heróis, canalhas, oportunistas,
batalhas, idílios, espertezas, vigarices, tudo enfim que a vida costuma
oferecer, em doses variadas.
Trata-se
de uma adaptação para jovens (um tanto acima do horizonte dos sete anos do
Benjamim – mas não é exatamente assim que é legal, no magistério ou na criação
dos filhos, oferecer mais horizonte do que aquele que o leitor já conhece?),
feita por Bruno Berlendis de Carvalho para a editora Berlendis e Vertecchia. (Mais
um pouco e vou ler com ele a excelente concepção e redação de Troia, de meu
amigo Cláudio Moreno, da L&PM, que abarca a mesma guerra.) Leio aqui,
explico ali, esmiúço ali adiante, e vamos indo.
(Na
hora em que lembrei que a Guerra durou 10 anos, o olho do Benjamim abriu forte
para dizer – “Igual à guerra dos gaúchos!”)
Numa
oportuna introdução, somos informados da intriga que deu origem a tudo, antes
de os gregos se deslocarem para as praias de Troia. Comemorava-se o casamento
de Tétis com Peleu, bando de convidados no Olimpo, menos Éris, a Discórdia,
que, para sacanear a alegria geral, lançou para dentro dos muros uma maçã de
ouro maciço com a frase “Para a mais bela”. (Eis o tal “pomo da discórdia”.) Foi
o que bastou para que três poderosas mulheres-deusas, Hera, Atena e Afrodite,
se apresentassem, cada uma julgando-se a verdadeira destinatária do mimo.
Zeus,
que sabia da bronca armada nessa disputa, tirou o corpo fora; indicou Páris,
filho do rei de Troia, como alguém capaz de decidir a parada. As três foram até
o pastor e botaram na mesa: Hera prometeu que, escolhida, faria dele um grande
imperador; Atena o faria o melhor guerreiro entre todos; e Afrodite, a deusa do
amor, prometeu a Páris o coração da mulher mais linda do mundo. O poder, a força
e o amor. Eu leio a passagem e pergunto ao menino de sete anos quem ele acha
que Páris escolheu. E ele, abrindo um sorriso maroto, não titubeia: o coração
da mulher mais linda do mundo.
Certas
coisas permanecem, de fato. Em horas como essa, me volta uma frase de certo
personagem do Guimarães Rosa, não por acaso do conto A Terceira Margem do Rio,
em que um filho precisa lidar com um pai que vai embora mas fica, sai da vista
mas não da vida. Ao lembrar as agruras da filiação, o personagem diz que esse é
um assunto que jogava para trás seus pensamentos. Bem isso.
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